Antônio Donizette de Oliveira – adonizette@eafmuz.gov.br Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho, Morro Alto, 37.890-000, Muzambinho – MG. (35) 3571-1529. Paulo Cezar Rezende Fontes – pacerefo@ufv.br Haroldo Carlos Fernandes Júlio Cezar Silveira Nunes
O solo para o plantio de batata é preparado por aração e gradagem. A aração visa enterrar os restos culturais, controlar plantas daninhas e “cortar o solo”, revolvendo-o, tornando-o mais solto, permeável, menos compactado, aerado, permitindo melhores condições de desenvolvimento das plantas de batata.
A gradagem destorroa e nivela o solo arado. Muitas vezes, o preparo do solo é feito apenas com a enxada rotativa, dependendo do nível de desagregação desejado.
O nível de desagregação e distribuição dos agregados no perfil do solo precisa ser adequado à cultura, épocas de preparo do solo e de plantio, quantidade e disponibilidade de água, teor de matéria orgânica e susceptibilidade do solo à erosão. Apesar da existência de métodos laboratoriais, o julgamento sobre o ponto ideal de preparo do solo depende da prática do profissional (Oliveira, 1997).
É comum os bataticultores utilizarem sistema de preparo que mobiliza intensa camada superficial do solo, que pode favorecer a degradação e a erosão, causando prejuízos econômicos e comprometendo a competitividade da cultura (Boller et al., 1998). São raros no Brasil os trabalhos versando sobre preparo do solo e performance da cultura da batata (Fontes, 1997). Em outros países, tem se preocupado em reduzir a compactação e a erosão e obter o maior nível de retenção de água no solo por meio de seu preparo adequado.
Com frequência, o cultivo da batata é feito em solo de moderada à alta declividade, que, sendo intensamente preparado, pode ser erodido. Neste caso, as taxas de infiltração de água, porosidade, aeração e capacidade de retenção de água ficam reduzidas, impedindo atingir alta produtividade de batata (Rachwall & Dedecek, 1993).
Para a cultura da batata, a escolha dos implementos para as operações de preparo do solo está em função da disponibilidade dos equipamentos na propriedade, sendo pouco observado critérios técnicos e conservacionistas, pois quase sempre há reduzida disponibilidade dos mesmos.
Contudo, mudanças significativas estão ocorrendo em relação às preocupações com o meio ambiente e manutenção dos recursos naturais, havendo forte questionamento sobre a perda de solo por erosão e necessidade de intensa mobilização do solo para cultivo da batata. Neste contexto, surgiu o plantio direto, já amplamente divulgado e utilizado pelos produtores de grãos.
A preocupação com os exageros verificados no preparo do solo, para o plantio da batata, tem levado pesquisadores a buscarem sistemas alternativos de preparo do solo, como o uso da aração em faixa (Pierce & Burpee, 1995), preparo reduzido (Alva et al., 2002), aração inicial de toda a área com escarificador, ao invés de usar o arado de aiveca, (Carter et al., 2001) e mesmo o semeio direto.
O semeio direto da batata é prática não realizada ainda em escala comercial. Ekeberg & Riley (1996), experimentalmente, na Noruega, mostraram a viabilidade do “plantio direto” da batata em restos culturais de cevada e Boller & Prediger (2000), no Brasil, mostraram ser possível o plantio direto de batata em camalhão previamente construído.
Alternativamente e em posição intermediária ao plantio direto e preparo convencional encontra-se o “cultivo mínimo” ou preparo reduzido do solo. Boller et al. (1998) não encontraram diferenças significativas na produção de batata quando o solo foi mantido com maior quantidade de cobertura vegetal.
Vista lateral do mecanismo adaptado à plantadora, mostrando sulcador frontal e separador do adubo com haste escarificadora.
Vista frontal da plantadora-adaptadora após a adaptação 2.
Determinadas áreas de produção de batata no Brasil talvez possam ser beneficiadas com o uso do preparo reduzido do solo ou do plantio direto da batata, para minimizar a erosão e diminuir custos. Com o preparo mínimo, ficando o solo mais firme, a área pode ser plantada mais cedo, após período de chuva.
Pode haver menos gasto de combustível, modificação da temperatura do solo, controle de determinadas espécies de plantas daninhas e de patógenos do solo, menos dispersão de patógenos do solo, competição diferenciada pelos nutrientes e água, problemas com patógenos do solo, produção de compostos fitotóxicos à batateira, entre outras vantagens e desvantagens.
Em razão do exposto, foi pensado que seria oportuno avaliar a possibilidade de realizar o plantio de batata, utilizando-se o semeio direto ou o cultivo mínimo. Para tal, foi passado para Antônio Donizette de Oliveira, estudante de doutorado em Engenharia Agrícola da UFV, o desafio de construir um protótipo para o semeio direto de batata. Após seguidas modelagens, ajustes, confecções de peças e testes no campo ficou pronto o protótipo denominado UFV-ENG (Oliveira, 2003).
O UFV-ENG foi usado em um experimento realizado na Horta de Produção do DFT/UFV, em solo classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo Câmbico, fase Terraço (42% de argila), que estava coberto com densa vegetação de mucuna preta. Antes do experimento, a mucuna foi ceifada e retirada da área. O experimento constou de seis tratamentos, sendo três sistemas de plantio (convencional, direto e mínimo) e duas práticas de amontoa (com e sem) e quatro repetições.
O plantio convencional foi feito com uma plantadora-adubadora de duas linhas, existente no mercado, após o solo ter sido preparado com enxada rotativa. A plantadora foi emprestada pelo dr. José Daniel, da
Abasmig (Associação dos Bataticultores de Minas Gerais). O plantio direto foi feito com a mesma plantadora-adubadora, após ter sido submetida a adaptações (UFV-ENG -Adaptação 1). O plantio mínimo foi feito com a mesma plantadora, após ter sido submetida a adaptações diferentes da anterior (UFV-ENG – Adaptação 2).
O experimento foi realizado no período de 10/05/2002 a 27/08/2002, sendo seguidas as práticas culturais rotineiras para a cultura, incluindo irrigação por aspersão. Foi utilizada batata-semente cedida pela Abasmig. Foram avaliados os desempenhos do maquinário, características do solo e produção qualificada de tubérculos. Serão mostrados apenas os Quadros 1 e 2, adaptados do trabalho de Oliveira (2003).
O experimento foi realizado em área plana, que estava plantada com mucuna preta nos últimos três anos, em solo argiloso, na época seca do ano, com tubérculo-semente em início de brotação da cultivar Monalisa. Utilizou-se o espaçamento de 75 cm entre fileiras, herbicidas e controle manual de tiririca, dessecamento químico da parte aérea e arranquio dos tubérculos com enxadão.
Antes das conclusões, os pontos acima listados merecem atenção dos leitores já que em outras localidades, situações e procedimentos, pode ocorrer resultado diferente. Obviamente, não podem ser enumeradas todas as diferenças que possam existir entre as condições do experimento relatado e cada situação específica, pois é difícil imaginar o universo de variações existentes (produtor x ambiente x sistema de produção).
Portanto, como qualquer tecnologia, o protótipo precisa ser submetido à avaliação de desempenho e prováveis adaptações. Isso é por nós chamado de ajuste local, sinônimo do refinamento de uma informação ou tecnologia para cada situação. Para tal, além de prática, é necessário conhecimento, coragem e criatividade, atributos que tentamos transmitir aos alunos de Agronomia da UFV.
Conclusões:
É possível plantar batata em plantio direto ou em cultivo mínimo.
O plantio convencional propiciou mais rápida emergência da planta. Os três métodos de plantios, (a) com a plantadora-adubadora convencional; (b) com o protótipo UFV-ENG submetido à modificação 1 (plantio direto) e (c) com o protótipo submetido à modificação 2 (plantio com cultivo mínimo) propiciaram semelhantes estandes (média de 41.980 plantas/ha) e produtividades total e comercial de tubérculos.
É necessário fazer a amontoa quando o plantio for feito com o protótipo submetido à modificação 2 (cultivo mínimo) para diminuir a produção de tubérculo não comercial; nos outros dois métodos de plantio, a amontoa foi desnecessária.
O uso do protótipo UFV-ENG permitiu economias de tempo e de óleo diesel. Em adição à redução de custos, o protótipo poderá propiciar menores perdas de solo e de nutrientes (não avaliados no estudo).
A confecção do protótipo UFV-ENG é tarefa simples e pouco onerosa, sendo possível de ser realizada em pequena oficina, a partir da plantadora convencional. Detalhes sobre o protótipo podem ser obtidos com o professor Antônio Donizette de Oliveira. Referências bibliográficas: consulte o autor.
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