Luís Antônio S. Azevedo Syngenta Proteção de Cultivos Ltda Departamento Técnico
e-mail : azevedo.luis@syngenta.com
1 – Introdução
Na prática , os programas de controle de doenças de plantas são as recomendações técnicas que se fazem para o emprego dos diversos fungicidas num determinado sistema de produção agrícola. Estas recomendações técnicas envolvem : a escolha adequada do princípio ativo, a dose efetiva de controle, as misturas , o início , número , época e intervalo de aplicação, os estádios fenológicos de maior sensibilidade, o timing de aplicação e o período residual.
Os programas de controle numa determinada cultura devem levar em consideração os diversos níveis de complexidade, que existem quando da incidência de diferentes doenças na cultura(Azevedo,1995). A Figura 1 ilustra este nível de complexidade para as doenças que ocorrem na cultura da batata para a adoção de programas de pulverização.
Figura 1. Cultura da batata e 3.º nível de complexidade para as medidas de controle integrado e adoção de programas de pulverização.
2 – Complexidade dos programas de pulverização
2.1 – Características da cultura , patógeno e ambiente
Os programas de controle, segundo Zambolim et al 1997 e Reis & Forcelini,1994 para alcançarem seus objetivos práticos devem contemplar os vários aspectos ou características da cultura a ser protegida, dos patógenos e do ambiente. As características relacionadas com a cultura são em síntese : suscetibilidade da cultivar , arquitetura da planta ,época de plantio , espaçamento ,ciclo da cultura , manejo de água e adubação , valor de mercado e alvo biológico. Já as características do patógeno são seu potencial como patógeno , virulência , presença de raças fisiológicas , modo de disseminação , tempo, forma e capacidade de sobrevivência ,fungo necrotrófico ou biotrófico e epidemiologia. As características do ambiente são : temperatura , umidade relativa do ar , período de molhamento foliar , radiação solar e velocidade do vento . O alvo biológico é local na planta onde o patógeno penetra . Por exemplo , na requeima da batata e do tomate , o alvo são as folíolos mais novos e as hastes . No caso do mofo branco do fijoeiro , o alvo são as flôres. Os ascoporos quando disseminados , atingem as flores iniciando o processo infeccioso.
Os programas de controle de doenças numa determinada cultura , devem priorizar sempre diversos patógenos e nunca especificamente um apenas. Devem visar as principais doenças que ocorrem naquela cultura e região e não podem ser generalizados . Isso , aparentemente , parece ser fácil de ser seguido como uma regra básica , mas não é. No dia a dia do campo , no aspecto prático encontramos alguns fatores que têm dificultado a amplitude biológica dos programas de controle. Vários deles poderiam ser citados ; porém, dois fatores merecem uma análise mais detalhada : 1) a época de ocorrência diferente das doenças devido ao clima e estádio fenológico da cultura ; 2) o espectro de ação do fungicida escolhido para o controle. Vamos dar como exemplo a cultura dabatata . As duas doenças fúngicas mais importantes são a Requeima ( Phytophthora infestans ) e a Pinta Preta ( Alternaria solani ). A fase crítica para a ocorrência de Requeima , nos plantios de batata no sudoeste paulista( Itapetininga,Capão Bonito e Tatuí ) , no sul de Minas e na região produtora do Paraná ( Lapa , Contenda e Campo Largo ) vai dos 15 aos 55 dias após a germinação dos tubérculos.(Azevedo,1992). A fase crítica da Pinta Preta começa , com algumas excessões , em torno dos 50 -60 dias após a germinação. No caso específico dessas duas doenças , os programas de controle devem incluir tanto a utilização de fungicidas protetores e de fungicidas sistêmicos. Isso porque não dispomos ainda de um fungicida sistêmico que controle Requeima e Alternaria simultaneamente.
Algumas Estrobirulinas ( Azoxystrobin ) e o Midas ( Famoxadone + Mancozeb) parecem ter ação sobre os dois patógenos , mas requerem doses maiores para Requeima , o que inviabiliza seu uso devido ao custo ou a fitotoxicidade. Na prática é possível o uso de fungicidas protetores para o controle dessas duas doenças. Existem no mercado uma série de princípios ativos que são bastante utilizados no controle de Requeima e Pinta Preta. Os mais utilizados são o Maneb , o Mancozeb , o Clorotalonil , os Cúpricos e o Captan.
2.2 – Critérios para a escolha do fungicida nos programas de pulverização
A escolha de um fungicida para um programa de controle de uma doença ou de doenças ,em culturas de valor agronômico nem sempre é uma tarefa fácil. Envolve basicamente duas etapas distintas: primeiro , é necessário ter conhecimento da doença ou doenças a serem controladas. Para isso , saber criteriosamente identificar as doenças pelos sintomas e sinais , saber a época de ocorrência ( períodos ou estádios críticos ) e os prejuízos causados por elas , reveste – se de grande importância no estabelecimento de programas eficazes de controle. A segunda etapa é a escolha propriamente dita do princípio ativo. É relativamente extensa a lista de produtos registrados para as principais doenças fúngicas . A dificuldade maior certamente não é esta , e, sim, o de encontrar num só produto o maior número possível de características desejáveis sob o ponto de vista prático e agronômico.
Na prática , é quase impossível , de se juntar ou de se encontrar num só composto todas essas características desejáveis .A escolha deve ser feita baseada no fungicida ou fungicidas que apresentar o maior número de benefícios para aquela situação de controle. Em resumo : quase sempre são escolhidos aqueles produtos de eficácia conhecida e comprovada , sem problemas ambientais e que economicamente satisfaçam as exigências do usuário.
3 – Modelos de Programas de Pulverização
Existem no controle de doenças de plantas apenas duas situações de uso de fungicidas. Os tratamentos que são realizados de forma preventiva , antes do aparecimento dos sintomas ou os tratamentos que são realizados de forma erradicativa / curativa. Dificilmente se consegue o êxito no controle efetivo de doenças num sistema unificado de produção utilizando apenas uns dos modelos aqui propostos.
3.1 – Programas Preventivos e Sistemáticos
A proteção das partes da planta sensíveis ao ataque de patógenos, utilizando um Programa Preventivo e Sistemático , só é efetiva quando a situação permite a pulverização de um fungicida protetor sozinho ou em mistura no alvo biológico. Nos programas preventivos o tratamento com fungicidas deve ser iniciado independentemente do estádio de desenvolvimento vegetativo da cultura ; de forma preventiva , antes do aparecimento dos sintomas ( situação ideal de controle ). Os programas preventivos preconizam reaplicar o fungicida sempre que houver sintomas de reinfecção das doenças na cultura. Na prática , tem – se observado o uso dos programas preventivos no aparecimento dos primeiros sintomas, o que pode, em alguns casos de doenças mais agressivas, ser o primeiro erro no controle. No caso específico da cultura isso tem ocorrido no controle de Requeima e Pinta Preta Tem sido regra geral que para os programas preventivos são mais indicados os fungicidas protetores de contato ; porém, não existe nenhuma razão para que os fungicidas sistêmicos não sejam indicados também para os mesmos. Estes produtos quando aplicados preventivamente apresentam uma melhora sensível das suas características biológicas; pois ocorre uma potencialização da fungitoxicidade , penetração , translocação e aumento do período residual.
Dentro dos programas preventivos de controle, existem algumas variações de uso de fungicidas. Um programa que é muito utilizado nas culturas de tomate e batata é de aplicação de base , comumente denominado de “Foundation Application “. Este programa prevê a pulverização semanal de fungicidas protetores , independente da presença de sintomas de doenças ou de condição climática favorável. É usado principalmente para a Requeima e Pinta Preta . Na maioria das vezes , são utilizados os fungicidas ditiocarbamatos , clorotalonil e cúpricos. O programa de aplicação de base dá uma segurança muito grande ao agricultor ; além de apresentar uma relação custo benefício favorável. Uma outra variável dentro dos programas preventivos são as pulverizações baseadas num calendário fixo ou semi – fixo durante todo o ciclo da cultura. Não existem levantamentos que comprovem , mas este tipo de programa parece ser o preferido da grande massa de agricultores. São utilizados especialmente no controle das principais doenças de hortaliças.
Há ainda uma outra variação dentro do programa preventivo que é a aplicação da dose cheia do fungicida em doses divididas. “Split Application” . Apesar dos riscos da utilização de meia dose , esse programa tem sido utilizado com eficácia nas culturas que não exigem muitas aplicações de fungicidas( trigo , soja , feijão emilho ). Como exemplo podem ser citados o uso de triazóis na cultura do trigo para o controle de oídio , ferrugens e manchas foliares. Para as condições normais das doenças citadas anteriormente são recomendadas duas pulverizações de triazóis. Esse tipo de programa não deve ser utilizado para a cultura da batata, devido aos riscos que a meia dose apresenta para o controle de Requeima e Pinta Preta.
3.2 – Programas de pulverização erradicativos
Os programas erradicativos devem utilizar preferencialmente os fungicidas sistêmicos com ação curativa, intercalados com a aplicação de fungicidas protetores. Isto se explica devido as propriedades erradicantes e curativas existentes na maioria dos produtos sistêmicos. O termo erradicante traduz melhor a ação pós – infecção desses produtos, porque, para proteção vegetal , não existe no mercado nenhum fungicida sistêmico com poder de cura.
O tratamento deve ser iniciado indepedentemente do estádio de desenvolvimento vegetativo da cultura, já no surgimento dos primeiros sintomas e sinais do patógeno. Os programas erradicativos apresentam uma vulnerabilidade de aplicação prática. É muito difícil se determinar com precisão no campo, o limite de infecção da doença para qual a erradicação com produtos sistêmicos é efetiva. O efeito erradicante dos fungicidas sistêmicos é diferente e varia de acordo com o produto , patógeno , dose e condição climática. Como exemplo podemos citar : o metalaxyl M , o cymoxanil , o dimethomorf tem um efeito erradicante até 48 horas pós – infeção de Phytophthora infestans ( Tofoli,1997). O difenoconazole e o tebuconazole tem efeito erradicante de até 72 horas para Alternaria solani em batata e Septoria lycopersi em tomate.( Tofoli&Azevedo,1997)
3.3 – Programas de pulverização baseados nos estádios fenológicos
Os programas de pulverização que utilizam os estádios fenológicos como base de aplicação de fungicidas , precisam do auxílio das escalas fenológicas de crescimento.
Para a maioria das culturas agronômicas, estão disponíveis várias escalas fenológicas. Elas oferecem maior segurança e precisão, quando este tipo de programa é utilizado. Os programas de pulverização fenológicos têm sido mais empregados nas culturas frutíferas perenes como uva , pera , pêssego , nectarina e citros, como, por exemplo o uso de fungicidas sistêmicos para o controle da sarna da macieira. Não são ainda utilizados na cultura da batata, porque necessitam ainda de mais estudos e experimentação.
3.4 – Programas de pulverização baseados em sistemas de previsão
Ainda são pouco utilizados no Brasil devido principalmente, à disponibilidade , à complexidade de programas confiáveis e à resisência do agricultor em aceitar novas tecnologias . Estes programas de pulverização podem utilizar tanto fungicidas protetores como fungicidas sistêmicos. A principal vantagem de um sistema de previsão é o de avisar ou alertar o agricultor para o timing correto de aplicação. Alguns desses sistemas recebem a denominação de sistemas de alerta ou de avisos. Como vantagens adicionais do sistema estão a economia de algumas aplicações, mão de obra e menor poluição do ambiente. Algumas experiências têm sido feitas nas cultura da batata, no entanto devido aos riscos e operacionalidade deste tipo de programa, não são muito aceitos para esta cultura.
4 – Programas de pulverização de fungicidas para a cultura da batata: resumo e conclusões
A melhor forma de controle é a prevenção. Como regra geral para a maioria das situações de controle, a proteção de plantas com fungicidas deveria ser sempre realizada de forma preventiva. Lastimavelmente esta regra simples não tem sido seguida por várias razões , já abordadas neste trabalho.
Os tratamentos em que o controle deve ser preventivo são especialmente mais importantes para aquelas doenças que comprometem a qualidade e a aparência do produto final(Reis & Forcelini,1994). São exemplos desse quadro a a requeima e a sarna da batata, a sarna da macieira , a podridão parda do pessego , a antracnose do feijão vagem. Nestas situações , as pulverizações preventivas seguem um calendário pré – estabelecido , com base na duração do período residual e fungitoxidade do fungicida. O tratamento preventivo pode também , basear -se nos estádios fenológicos para definir melhor o início das pulverizações.
Em muitas situações de campo , o controle visa evitar perdas no rendimento. Neste caso deve – se considerar o critério quantitativo. Para algumas culturas, já foi determinado o limiar de dano econômico ( LDE ) ou seja , a intensidade na qual ocorrem perdas que cobrem o custo de controle. Como exemplo, cita – se o tratamento da parte aérea do cafeeiro com triazóis ( tebuconazole , propiconazole , hexaconazole , epoxiconazole e cyproconazole ) para o controle da ferrugem . Na cultura da batata, a utilização de programas erradicativos sempre representará riscos e falhas de controle para o agricultor, devido a agressividade das duas doenças principais: a requeima e pinta preta.
Da mesma forma que o controle integrado de doenças, a experiência de várias culturas, têm mostrado que os melhores resultados são obtidos com a combinação dos vários modelos de programas existentes. Um aspecto porém tem chamado muita a atenção: a importância cada vez maior do conhecimento dos estádios fenológicos das plantas e dos estádios críticos de doenças. São sem dúvidas ferramentas muito valiosas dentro da decisão dos programas de controle. Nos programas de controle a escolha adequada do grupo químico do fungicida é outro fator decisivo no sucesso do programa. Deve -se preferir sempre, aqueles grupos químicos que apresentam um largo espectro de ação.
5- Referências Bibliográficas
AZEVEDO, L. A . S. Ridomil na cultura da batata. Boletim Técnico, São Paulo, Ciba-Geigy, Divisão Agro, 1992. 8 p.
AZEVEDO, L . A . S. Doenças de hortaliças e controle com fungicidas. Novartis Biociências , Setor Agro, 1998. 1998. 92 p.( mimeografado)
REIS, E. & FORCELINI, C. A. Manual de fungicidas: Guia para o controle de doenças de plantas. Passo Fundo.Gráfica e Editora Pe. Berthier.1994.111 p.
ZAMBOLIM, L. , VALE, F. X. ; COSTA, H. Controle integrado de doenças de hortaliças. Visconde do Rio Branco, Suprema Gráfica e Editora,1997.122p.
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