Quem planta sempre colhe … será?

Tratando-se de batata, as duas alternativas são fatos que podem ser justificados, através de diversos fatores, definidos em dois grupos distintos – naturais e absurdos.
O primeiro grupo é composto, basicamente, por fatores relacionados à adversidade climática (excesso
de chuvas, secas prolongadas, temperatura elevadas, geadas, chuva de pedra, falta de luminosidade)
e problemas fitossanitários, provocados por bactérias, fungos, vírus, insetos e nematoides.
A chuva geralmente favorece a produção, po- rém o excesso provoca sérios transtornos e prejuízos. Após chuvas fortes ou períodos prolongados de chuvas não é possível realizar a colheita manual ou mecanizada, pois as máquinas e implementos â€œatolam” no solo úmido. Para piorar a situação é comum os tubérculos apodrecerem antes ou após a
colheita. Quando ocorrem períodos de secas, conhecidos como veranicos (mais de 15 dias sem chuvas), as
plantas chegam a morrer ou produzem muito pou- co. Também é comum o aumento as perdas em consequência dos danos provocados por insetos que atacam os tubérculos ou todas as partes aéreas da batata.
Quando as temperaturas são elevadas (> 30ºC) ocorrem os maiores prejuízos, pois as plantas só vegetam e não produzem tubérculos. E, se chove a maioria dos tubérculos apodrece.
Esporadicamente ocorrem geadas fortes, chuvas de pedra ou períodos prolongados com o “céu encoberto” que resultam na redução drástica da produção de batata.
Outro fator cada vez mais importante que reduz violentamente a produção, esta vinculado à sanidade
da batata semente. Em 2015, campos de batata semente visitados por milhões, bilhões, talvez trilhões de moscas brancas que inocularam vírus, resultaram na redução da produtividade de mais de 50 para menos de 20 toneladas/ha.
O segundo grupo denominado absurdo, consiste em fatores relacionados, principalmente, às legislações criadas ou “modernizadas” por pessoas “sem conhecimento de causa” ou com fortíssimas influências de “ideologias” tendenciosas.
Para justificar os absurdos que ocorrem no dia a dia dos produtores de batata, vale a pena relatar
situações reais em que as legislações trabalhistas provocaram imensos prejuízos aos produtores, trabalhadores,
transportadores e aos consumidores.
Analisem e reflitam sobre os acontecimentos a se- guir:
Caso 01 – Produtor vai à falência apesar do preço espetacular da batata – um produtor endivi- dado (prejuízos nos 03 anos anteriores) começou a colheita de uma área de batata, cuja qualidade e produtividade estavam excelentes. Todos os tra- balhadores estavam registrados e vieram de outras regiões localizadas há mais de 1000 km. Deixaram
suas famílias para juntar dinheiro durante cinco a seis meses na colheita da batata. Os preços da bata- ta atingiram valores elevadíssimos na época (cerca de R$ 200,00/saco), devido ao excesso de chuvas nas regiões que estavam também em período de co- lheita. O produtor decide remunerar melhor os tra- balhadores e tentar colher o máximo possível, pois a chuva estava se deslocando para a sua região. Otelefone toca incessantemente com pedidos de batata
do país inteiro, pagamento à vista. Previsão de vendas – 15.000 sacos – R$ 3.000.000,00; funcionários
– de R$ 600,00 ao invés de R$ 200.00/dia.
SURPRESA – Visita da fiscalização na lavadora -aplicação da lei… Tolerância – máximo de 02 horas
extras.

CONSEQUÊNCIAS – começou a chover na área a ser colhida durante 10 dias, os trabalhadores tiveram que ficar hibernando nos alojamentos, as batatas apodreceram no campo e… o produtor quebrou.
Caso 02 – Em 1980 existia mais de 30.000 produtores de batata no Brasil, atualmente são menos
de 5.000, sendo dezenas de grandes produtores (>500 ha) e milhares de pequenos produtores (< 50 ha). Os fatos que justificam esta situação estão relacionados basicamente às mudanças provocadas pela globalização. Atualmente são importadas imensas quantidades de batata industrializada que equivalem a produção de mais de 30.000 hectares;
o custo de produção de batata do Brasil é um dos mais elevados no mundo, as grandes redes de varejo
(nenhuma nacional) mudaram os sistemas tradicionais de comercialização e impuseram regras extremamente daninhas aos produtores (marcas próprias, margens astronômicas de lucros, promoções às custas dos produtores, etc.). No entanto, umdos principais motivos da “quebradeira” dos produtoresforam as legislações trabalhistas.

Como registar trabalhadores se os mesmos não aceitam serem registrados – hoje “cato” batata, amanhã “arranco”
feijão, na semana que vem “panho” laranja… vou onde “paga” mais. Como conseguir mão de obra
se é possível receber seguro desemprego e bolsa família? Como comprar colhedeira de batata que lá

fora custa R$ 700.000,00 e aqui no Brasil custa R$ 1.500.000,00? Como não pagar multas ou obrigar os trabalhadores a usarem botinas na colheita em solos úmidos ou a fazer suas necessidades em banheiros químicos no meio da roça? Para finalizar, questionamos: – Até quando regras válidas para fábricas de automóveis, metalúrgicas, shoppings, repartições públicas, tripulação de aviões, supermercados, farmácias, etc. serão as mesmas para a agropecuária? Como é possível alguém não saber distinguir cidade e campo, céu aberto e ambiente coberto e climatizado? Até quando a “galera do asfalto” continuará decidindo sobre a “galera da terra”? Precisamos mudar… antes que seja tarde demais. BASTA! NO BRASIL, QUEM PLANTA AS VEZES COLHE…

 

Natalino Shimoyama Gerente Geral – ABBA

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