Rede Melhor Batata: foi dado o primeiro passo!

Paulo Eduardo de Melo, José Amauri Buso & Carlos Alberto Lopes – Embrapa Hortaliças, C.P. 218, 70.359-970 – Brasília/DF. paulo@cnph.embrapa.br


Todas as cultivares de batata importantes atualmente no Brasil são estrangeiras, quer dizer, estranhas à nossa terra. Todas elas foram desenvolvidas em outros países, em condições climáticas muito distintas das nossas. Em consequência, estranham nossos solo e clima, exigindo elevadas doses de insumos para atingir patamares satisfatórios de produção. Porém, esse é um remédio caro e efêmero que coloca em risco não só a competitividade da cadeia produtiva, mas a sustentabilidade ambiental, econômica e social da produção de batata entre nós. Por esses motivos, o setor produtivo tem demandado, com urgência, novas cultivares, defendendo a idéia da Batata Brasileira.


Porém, não basta ser brasileira! É preciso que as novas cultivares mantenham os ganhos conseguidos até aqui, além de apresentarem melhor adaptação às condições brasileiras de cultivo e produzirem tubérculos de qualidade culinária superior àqueles ofertados hoje ao mercado pelas cultivares-líderes.


Para enfrentar com chances reais de sucesso um desafio desta magnitude, é preciso que haja uma união ordenada de forças por parte de todos os atores da Cadeia Produtiva da Batata. Buscando criar um ambiente propício a essa união, a Embrapa propôs a criação de uma Rede Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D e I) em Melhoramento de Batata para Condições Tropicais e Sub-Tropicais do Brasil, a Rede Melhor Batata. O objetivo principal da Rede Melhor Batata é aumentar o tamanho, a eficiência e a eficácia do melhoramento genético de batata no Brasil. A meta é duplicar as possibilidades de obtenção de cultivares nacionais que apresentem as características exigidas pela Cadeia Produtiva. Para atingir sua meta, a Rede Melhor Batata espera congregar um esforço interinstitucional, incluindo também a iniciativa privada.


O primeiro passo para a instituição da Rede Melhor Batata já foi dado. De 18 a 20 de outubro, a Embrapa organizou em Brasília uma Reunião Temática sobre Melhoramento de Batata. Embora não tenha sido possível contar com todas as instituições, associações e produtores relevantes no que diz respeito ao melhoramento e à produção de batata no Brasil, foram muitas as presenças importantes em Brasília (Figura 1). Compareceram ou estavam representados na reunião: a USP – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz”, a Universidade Federal de Santa Maria – Departamento de Fitotecnia, a APTA – Instituto Agronômico de Campinas, a EPAGRI – Estação Experimental de São Joaquim, a EPAMIG – Estação experimental de Caldas, o IAPAR – Unidade Regional de Pesquisa Leste, a Associação Brasileira da Batata (ABBA), a Associação dos Bataticultores da Região de Vargem Grande do Sul (ABVGS), a Associação de Bataticultores do Sul de Minas Gerais (ABASMIG), a Agrícola Wehrmann, o Grupo Nascente, a Hayashi Batatas, os Irmãos Horiguchi, a MH Agro Horiguchi, a Montesa/Bem Brasil Alimentos, além da própria Embrapa, com técnicos das unidades Clima Temperado, Hortaliças, Recursos Genéticos e Biotecnologia e Transferência de Tecnologia, Escritórios de Negócios de Campinas e Canoinhas.



Participantes da Reunião Temática sobre Melhoramento de Batata, realizada de 18 a 20 de outubro, na Embrapa, em Brasília.


Durante a reunião, os produtores e suas associações indicaram haver um número muito restrito de cultivares de batata sendo utilizadas com importância no Brasil, em que pese a diversidade de condições edafoclimáticas existente entre as várias regiões produtoras. Para os produtores a falta de cultivares mais bem adaptadas representa um dos cinco principais problemas da cadeia brasileira da batata. A cultivar Ãgata é, sem dúvida, a mais plantada atualmente, ainda que apresente várias deficiências. A mais relevante delas é o teor muito baixo de matéria seca nos tubérculos, que foi elencado inclusive entre as causas da retração de consumo de batata hoje observada. Tubérculos com teor de matéria seca baixa não se prestam à fritura, o modo preferencial de consumo de batata no Brasil. Outras cultivares de importância são Asterix, Atlantic, Cupido, Monalisa e Vivaldi, sendo que também são plantadas com importância, em algumas regiões específicas, as cultivares Baraka, Bintje, Caesar, Macaca e Mondial.
Já as instituições de ensino e pesquisa indicaram sua capacidade instalada para melhoramento de batata. Juntas, todas as instituições presentes produzem cerca de 110.000 novos genótipos por ano, utilizando nos cruzamentos tanto cultivares, quanto os genitores-elite que o melhoramento de batata brasileiro tem desenvolvido com muita eficiência ou ainda, germoplasma silvestre de batata. São muitos genótipos produzidos e avaliados a cada ano, é verdade, mas, infelizmente, o número ainda está aquém do necessário. Em teoria, uma nova cultivar de batata é desenvolvida, em média, a cada 150.000-200.000 genótipos avaliados por ano. Isto mostra como é imperativo um esforço interinstitucional para aumentar a capacidade do melhoramento genético de batata no país. Porém, é preciso também que os produtores participem ativamente desse esforço, de modo a replicarmos juntos no Brasil as parcerias entre o Estado e a iniciativa privada, que, em outros países, têm obtido sucesso no desenvolvimento de cultivares de batata.


Outro produto muito importante da reunião foi a identificação dos atributos essenciais e desejáveis em uma “cultivar ideal” (Tabela 1). Foram discutidas e ordenadas as características consideradas importantes durante a seleção de genótipos visando o desenvolvimento de cultivares, tanto para comercialização in natura dos tubérculos, como para processamento.


A definição e ordenação das características foi feita acreditando que essas cultivares estariam disponíveis para o mercado em um prazo de dez a doze anos. Foram consideradas características essenciais aquelas cuja presença na nova cultivar é uma condição imprescindível para a sua adoção. Já as características desejáveis são aquelas que, em adição às essenciais, têm relevância na adoção da nova cultivar.
Para cultivares que se destinam à comercialização in natura dos tubérculos, as características consideradas essenciais foram a apresentação dos tubérculos (aparência), polpa de coloração creme, tubérculos com resistência ao esverdeamento em pós-colheita e com baixo teor de gliocoalcalóides. Já as cultivares cujos tubérculos se destinam ao processamento como palitos ou fritas francesas (French fries) devem apresentar, como características essenciais, alta produtividade e tubérculos de formato alongado, com gemas superficiais e teores adequados de matéria seca e açúcares redutores. Além das características essenciais, foram ordenadas, pela importância, várias outras características (Tabela 1). É muito importante lembrar que para algumas dessa características como, por exemplo, resistência à canela-preta e à sarna-comum, os avanços possíveis através do melhoramento de plantas podem ser muito restritos.


A Reunião Temática sobre Melhoramento de Batata foi apenas o primeiro passo. Porém, a participação muito ativa de todos e a prolificidade de resultados nos permitem antever um futuro promissor para a Rede Melhor Batata e, em consequência, para o melhoramento e para a Cadeia Produtiva da Batata. Nosso próximo objetivo é sensibilizar as autoridades constituídas para a importância do melhoramento nacional de batata. Com isso, esperamos criar os meios necessários para iniciarmos a pavimentação do caminho rumo à meta de duplicar o número de genótipos avaliados por ano no Brasil. As primeiras ações nesta direção já estão sendo tomadas. Quem sabe, em breve, não estaremos aqui novamente, com alvissareiras notícias.



 

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