Carlos A. Lopes; Alice Maria Quezado Duval; Ossami Furumoto; José Amauri Buso; Paulo E. Melo. (Embrapa Hortaliças). Zilmar Silva Souza (EPAGRI). Valmir Duarte. (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Artur Ferreira Lima Neto (Universidade de Brasília). clopes@cnph.embrapa.br
A murcha-bacteriana ou murchadeira, causada pela bactéria Ralstonia solanacearum, é uma das doenças mais destrutivas da batata no Brasil e em outros países de clima tropical e subtropical. É responsável por perdas elevadas na produção de batataconsumo e pela condenação de campos de certificação de batata-semente. Pode ocorrer em todas as regiões produtoras de batata do País, principalmente nos cultivos sujeitos a altas temperatura e umidade.
O controle da murcha-bacteriana só tem sido possível quando várias medidas complementares são observadas, dentro da filosofia de manejo integrado. Se a cultura se destina à produção de batataconsumo, é possível “conviver” com a doença, desde que ela seja bem monitorada e não atinja níveis de danos econômicos. Entretanto, no caso de batata-semente, esta convivência não é aceitável, visto que a legislação nacional de certificação de batata-semente prevê tolerância 0 (zero) para esta doença.
Embora não existam cultivares com alto nível de resistência à murcha-bacteriana, observa-se que qualquer nível de resistência tem se mostrado muito útil quando associado a outras medidas de controle, tais como: escolher áreas de plantio sem histórico da doença, preferir os plantios de inverno, plantar batata semente certificada, manejar a irrigação para evitar excesso de água e empoçamentos e fazer rotação de culturas preferencialmente com gramíneas.
Mesmo sendo um acontecimento muito raro, cultivares que não foram melhoradas para resistência à murcha-bacteriana apresentam consistentemente menor grau de ataque da doença. Isto pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo fato de a resistência ser relacionada à adaptabilidade da cultivar a uma determinada região. Assim, ‘Ontário’ sobressaiu-se entre outras cultivares nos EUA e em Papua Nova Guiné e ‘Prisca’ foi a cultivar mais resistente dentre 9.000 genótipos avaliados, sendo, por isto, uma das mais importantes cultivares em Madagascar. No Brasil, a cultivar alemã Achat sobressaiu-se a partir da década de 1990, com grau de resistência considerável quando comparada com cultivares estrangeiras amplamente plantadas, como Agata, Monalisa, Atlantic, Bintje e Baraka, ou mesmo com cultivares nacionais como Baronesa, Catucha, Contenda e Cristal, selecionadas na Região Sul, onde a murchabacteriana é endêmica. A resistência de ‘Achat’ mostrou-se estável, independente da prevalência da raça (1 ou 3) no local avaliado, sendo por isso a cultivar com menor índice de rejeição em campos de produção de batata-semente em levantamentos feitos na Região Sudeste do Brasil. Durante o tempo em que ‘Achat’ foi importante em termos de área plantada, pois foi quase totalmente substituída por questões de aparência, produtividade e qualidade culinária, acredita-se que ela tenha contribuído significativamente para a redução de perdas causadas pela murchabacteriana, embora não existam dados estatísticos para comprovar essa hipótese.
Infelizmente, esta cultivar não floresce, o que impede que ela seja utilizada em programas de melhoramento visando à obtenção de genótipos resistentes e, ao mesmo tempo, com boas características de tubérculos.
Desde o início da década de 1980, outras fontes de resistência à doença foram buscadas em genótipos derivados de cruzamentos realizados no Centro Internacional de la Papa (CIP), em que pelo menos um dos genitores era resistente, normalmente encontrados em espécies não cultivadas do gênero Solanum, como S. phureja, S. sparsipilum, S. chacoense e S. microdontum.
Desses cruzamentos, foi possível selecionar clones com alto grau de resistência à doença sem, entretanto, se obter imunidade, que dispensasse outras formas de controle. Além disso, o aspecto visual desses clones não era atrativo, o que levou à necessidade de se realizar uma seleção prévia para tipo de tubérculo antes de se avaliar para resistência à doença. Deste modo, o material selecionado pode ser usado como genitor em programas de melhoramento, que visam principalmente o aspecto visual do produto.
Após 20 anos de testes, com dezenas de milhares de combinações avaliadas, os clones mais promissores selecionados na Embrapa Hortaliças foram: MB 03, MB 9721-01, MB 9846-01, 384.515-1 e MB 9801-01. Esses clones estão sendo cruzados com as cultivares Monalisa, Asterix e Baraka, e com clones avançados de programas brasileiros de melhoramento. As progênies estão sendo avaliadas objetivando selecionar clones, com a expectativa que herdem um bom aspecto comercial e níveis de resistência à murcha-bacteriana superiores aos encontrados nas cultivares atualmente utilizadas pelos produtores.
Fases do processo de seleção de clones com resistência à murcha bacteriana utilizado na Embrapa Hortaliças:
FASE 1. Obtenção de sementes verdadeiras a partir de cruzamentos com pelo menos um dos genitores resistentes (cerca de 20.000 sementes por ano, Brasília e Santa Catarina);
FASE 2. Clonagem dos genótipos pelo plantio das sementes verdadeiras em telados (cerca de 10.000 clones por ano – Primeira seleção por tipo na colheita gerando cerca de 2.000 clones. Brasília);
FASE 3. Multiplicação dos clones em campo e seleção para tipo de tubérculos, resultando em cerca de 250 clones selecionados (Brasília-DF e Cristalina-GO);
FASE 4. Avaliação, em campo infestado com R. solanacearum, dos clones selecionados na fase 3 em Brasília ( Fase 4A) e no Rio Grande do Sul (Fase 4B);
FASE 5. Limpeza clonal através de cultura de tecido e multiplicação para testes de outras características de interesse (Brasília).
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