Situação e perspectiva do cultivo da batata no Perú

Fernando N. Ezeta – f.ezeta@cgiar.org Alberto Gonzáles


INTRODUÇÃO
A batata é uma valiosa herança das antigas civilizações que se desenvolveram nos Andes, antes da colonização espanhola no séc. XVI. Os especialistas indicam que o centro de plantação dessas espécies está nos Andes e na zona do lago Titicaca, entre Peru e Bolívia. Ali se encontra uma grande diversidade genética de espécies nativas cultivadas. Porém a distribuição das espécies silvestres de batata na América é muito ampla, envolvendo desde Chile e Argentina até o sul dos Estados Unidos. Na época destacaram a importância do cultivo da alimentação dos moradores de Tawantinuyo, o principal império Inca, que abrangia grandes extensões, o que hoje são territórios de Peru, Bolívia, Equador, Chile e Argentina. O Inca Garcilazo de la Veja (1539 – 1616), refere-se à batata como o mais importante legume que cresce debaixo da terra e que os índios usavam como alimento. Hoje em dia no Peru, a batata continua sendo um alimento básico, principalmente nas zonas rurais. Este cultivo representa 9% do PIB agropecuário, ocupa 13% de área com cultivos transitórios e gera 100.000 postos permanentes de trabalho no setor primário e muito mais nas indústrias e nos serviços relacionados a sua produção e utilização.
A batata está em quarto lugar no cultivo de alimento mais importante com um grande potencial de expansão e produtividade das áreas cultivadas dos países em desenvolvimento. A produção no ano de 2001 o Peru produziu cerca de 2,8 milhões de toneladas de batatas em 243 mil hectares com uma produtividade por meio de 11,5 t/ha. A tendência de produção para a última década tem crescido com um importante aumento de produtividade e de área cultivada.



Não obstante, as séries históricas revelam que houve mudanças, e as explicações são encontradas em fenômenos sociais e econômicos ocorridos nas últimas décadas, entre eles, cabe mencionar a reforma agrária de 70, as distorções e preços relativos dos cereais importados, a produção e consumo de arroz da década de 80, e o terrorismo das últimas décadas.


Também se observa algumas flutuações drásticas da produção, associadas aos fenômenos climáticos ocorridos pelo El Niño,com suas devastadoras inundações, além da elevação da temperatura nas zonas produtoras.


Segundo o último censo agrário, no Peru existem aproximadamente 600.000 produtores de batatas. Por um lado estão os produtores comerciais, que produzem para o mercado e por outro estão os produtores de Zubsistência, os que destinam mais de 50% de sua produção ao próprio consumo. Os produtores comerciais utilizam recursos tecnológicos modernos como fertilizantes químicos e pesticidas.
Os produtores de autoconsumo utilizam tecnologia tradicional com insumos próprios.
Os produtores orientados ao mercado obtêm altos rendimentos unitários graças aos recursos tecnológicos para aumentar a eficiência produtiva e diminuir os riscos de produção enquanto os produtores de subsistência obtêm baixos rendimentos, exposição e altos riscos de produção devidos a fatores biológicos e climáticos. Estima-se que 30% das áreas plantadas com batatas no Peru são propriamente para produção comercial.


A maior superfície de produção de batatas no Peru encontra-se na região andina, onde se concentra 95% de área cultivada.Na montanha há duas campanhas de produção: a denominada Grande Campanha se inicia em outubro com a chegada das chuvas e terminam em Abril com o fim da estação chuvosa, a Pequena Campanha se inicia em Maio e termina em Setembro. Esses cultivos se localizam nas zonas baixas e abrigadas da montanha porque as zonas altas são geladas e impedem o cultivo nesse período do ano
Na região costeira, as batatas são cultivadas no inverno, que vai de Abril a Junho e colhidas de Agosto a Novembro. A concentração de sementeiras em determinadas épocas do ano resulta em certo caráter sazonal que reflete sobre os preços.



O Consumo
A estatística para o ano 2000 é de um consumo de aproximadamente 104,2 Kg por pessoa, o qual coloca os Peruanos entre os maiores consumidores de batatas da América Latina. A reforma Agrária imposta pelo governo militar na década de 70 traz como consequência uma brusca queda de produtividade. Em 1992 foi registrado o mais baixo consumo aparente dos últimos anos, chegando a 34,8Kg por pessoa.



Paralelamente, as políticas estatais baseadas em taxas de câmbio, dão preferência para importação de cereais e distanciaram os preços relativos dos cereais importados, incentivando o consumo de pão. Ainda sim a produção de arroz foi aumentada devido a um sistema de comercialização centralizado pelo Estado que garantia preços competitivos aos produtores e subsidiava o consumo. Na década de 80, com a ajuda estatal, a produção e o consumo de arroz cresceu de maneira muito significativa ajudando a mudar os hábitos alimentícios da população peruana, tanto nas áreas urbanas como nas áreas rurais. A recuperação do consumo na última década deve-se aos preços relativos dos produtos importados e na redução dos produtos que competem com a batata.


A Indústria
As batatas são desidratadas por exposição a períodos sucessivos de congelamento noturno e intensa radiação solar nas terras dos Andes. Esse processo que se pratica nos países andinos permite conservar a batata por vários anos em estado apto para o consumo humano e são consumidas principalmente pelas populações nativas das zonas altas do Peru, Bolívia e Equador. Outra forma de transformação e conservação é a batata seca, que se prepara por desidratação natural, onde a batata é cozida e posteriormente cortada em tamanho de aproximadamente 0,5 a 1 cm.
O popular consumo de frango assado acompanhado de batata frita tem contribuído notavelmente ao desenvolvimento de uma importante indústria artesanal de batatas em tiras e bastões. Estima-se que só na região metropolitana de Lima se processam diariamente cerca de 200 toneladas de batatas para restaurantes. A expansão de restaurantes de comida por Kilo observada na década de 90 é devido a uma crescente demanda de batatas pré-frita congelada. O consumo diário de batatas pré-frita congelada em Lima é de aproximadamente 10 t.


O Comércio Exterior
Tem havido esporádicas importações e exportações de batatas através das fronteiras com países vizinhos em volume de pouca importância ao volume total da produção peruana.
Podemos afirmar que o Peru é auto-suficiente para abastecer seu mercado interno. As importações de produtos processados no ano de 2000 renderam aproximadamente 6,5 milhões de dólares.
A exportação de variedades de batatas com alta qualidade culinária tem um bom potencial no segmento especializado do mercado. As exportações de batatas in-natura para a Europa e América do Norte têm sido limitadas por problemas sanitários impostos pelos países industrializados.



O Armazenamento
Os produtores comerciais destinam toda sua produção ao mercado após a colheita. A capacidade do armazenamento deste segmento dos produtores é a razão quase nula porque são expostos aos riscos elevados do preço devido à instabilidade da demanda com respeito ao preço e ao produto ser altamente perecível.
Os produtos de subsistência geralmente são armazenados nas regiões mais frias dos Andes, devido às baixas temperaturas do inverno serrano. Esse tipo de produto enfrenta pequenos riscos de preço baixo na possível comercialização de pequenos excessos. Devido ao grande número, sua participação no mercado em período de escassez pode ser importante para a estabilização dos preços.


O Desenvolvimento Tecnológico
O cultivo da batata no Peru provou uma elaboração tecnológica notável nas últimas décadas. A tecnologia permitiu importantes avanços na produtividade, na qualidade, custo de produção e na ocasião da oferta. Os principais avanços tecnológicos foram dados em novas variedades e produção de sementes de qualidade.


As Variedades
Nas zonas andinas, as variedades indígenas foram cultivadas desde os tempos ancestrais e ainda hoje são cultivadas por muitos agricultores pela sua qualidade e atributos agronômicos. A mais conhecida é a batata amarela, produzida exclusivamente nos Andes, nas zonas definidas como agro-ecológicas.
Essas variedades têm alto conteúdo de matéria seca, várias cores de polpa e são muito apreciadas na preparação de papillas, prato típico por sua textura e sabor.
As batatas indígenas são amplamente consumidas pelas famílias rurais, embora algumas sejam comercializadas nos grandes mercados urbanos com preços que excedem largamente o preço das batatas cultivadas pelos brancos. No quadro 2 contém alguns dos principais cultivos indígenas comercializado no Peru e seus atributos gastronômicos.
O programa de melhoria genética da batata no Peru foi iniciado no meio do século passado, visando principalmente à seleção de variedades mais produtivas, com olhos superficiais e adaptados a grande diversidade climática características dos Andes.
Posteriormente, os moradores se concentraram na busca de resistência a doenças, principalmente Tizón Tardio, causado pelo fungo Phytophthora infestans.
Os conceitos de qualidade para o consumo sempre foram considerados devido a uma maior produtividade, e a resistência a doenças nem sempre estão associadas a uma melhor qualidade. Pelo contrário, as novas variedades têm qualidade inferior à das plantadas pelos indígenas. Outros fatores como a falta de tubérculo, dimensão, tipo e a cor da pele reinaram sobre a qualidade culinária. A melhoria genética com fins de tratamento industrial não recebeu maior atenção até a década de 90 quando os pedidos de batata para a indústria cresceram pelo impulso dos câmbios e pelos hábitos de consumo, melhorias nas receitas e urbanização. Atualmente os programas de melhorias dão prioridade a características como gravidade específica, teor em açúcares e forma de tubérculos adequado ao tipo de processo industrial. Lamentavelmente até agora as indústrias têm p oucas opções para o tratamento. Em geral são produzidas com matéria prima local usando variedades nacionais ou variedades estrangeiras com semente multiplicada localmente.
As cadeias internacionais de restaurantes de comida por kilo são abastecidas com batatas pré-fritas congelada, importadas para os Estados Unidos, Canadá, Bélgica e recentemente Argentina. O quadro 3 contém as principais variedades cultivadas no Peru e seus principais atributos agronômicos e aptidões culinárias e industriais.


A Semente
A produção de sementes está tendo importantes avanços. Os métodos de multiplicação rápida e detecção de micróbios patogênicos foram difundidos nas instituições públicas e empresas privadas permitindo a produção de sementes básica de qualidade muito boa.



A tecnologia de semente permitiu introduzir rapidamente as novas variedades e recuperar a capacidade produtiva de antigas variedades degeneradas pela acumulação de doenças causadas por vírus.
Do mesmo modo chegou-se a melhorar a qualidade de semente de muitas variedades indígenas cultivadas desde tempos coloniais. Inicialmente a produção de semente pré-basica esteve entre as mãos do setor público, mas durante os últimos anos o setor privado fez incursões exclusivamente na produção de semente pré-basica por meio de associações de produtores.



No Peru a multiplicação de semente de qualidade é feita nas zonas elevada das montanhas, acima dos 3000m do nível do mar, onde a combinação de fatores climáticos e o isolamento permitem obter semente de boa qualidade fisiológica e sanitária.
Essas condições favoráveis dos Andes ajudaram nos sistemas tradicionais de produção de semente em vigor até agora. Considera-se que menos de 2% da semente seja produzida com supervisão oficial que apressa a produção e comercialização de sementes.
Os produtores comerciais completam a produção com os sistemas tradicionais de multiplicação para o abastecimento de sementes.
A Competitividade da Batata no Peru Uma análise exaustiva das limitações na cadeia produtiva de batata no Peru escapa aos objetivos e à dimensão deste trabalho. Contudo podemos apresentar algumas das mais importantes dificuldades que são encontradas ao longo da cadeia de batatas no Peru.
Em primeiro lugar diremos que as limitações caem em dois grandes grupos: por um lado são diretamente aquelas em relatório ao processo produtivo, condicionado pela atmosfera e pela tecnologia e de outra parte são as limitações de caráter socioeconômico que incluem as condições estruturais dos sistemas produtivos, as políticas públicas e as instituições. Essa diferença convém mencionar a interação estreita entre estes dois grupos de fatores num sistema produtivo.
É evidente que o rendimento médio de 11,5 t/ ha revela uma enorme infração de produtividade que é baixa pela utilização de recursos tecnológicos disponíveis. Uma das mais importantes limitações da produtividade no Peru é a falta de irrigação nas culturas de montanha.
Nos Andes a maior parte da produção de batatas é feita em setores de terrenos não irrigados o que limita a produção só em uma época e expõem as culturas em prolongados períodos de seca com as diminuições consequentes na produção. Outro fator que merece uma atenção é a qualidade do produto. No entanto, sem intenção de diminuir a importância desses fatores, cremos que a sua incidência poderia reduzir-se pela utilização de tecnologia adequada disponível.
As limitações socioeconômicas são muito mais complexas e mais difíceis de resolver porque tem suas raízes em fatores exógenos ao sistema produtivo.
Um dos problemas estruturais mais complicados da relação produtiva é a grande concentração de produtores de batatas na economia de subsistência, onde predomina a pequena propriedade e a cultura em zonas marginais e altamente vulneráveis a fatores climáticos. Por outro lado, os produtores comerciais fazem face a altíssimos custos de transação para a aquisição de produção e serviços para a comercialização de seu produto.
A distância dos centros de produção aos centros de consumo com um sistema relativo a via pública deficiente cria o preço dos custos de transportes que é transferido ao consumidor final, criando o preço do produto em várias vezes o preço pago ao produtor.
A volatilidade de preços é associada ao caráter sazonal da produção, o pouco de capacidade de armazenamento, a perecibilidade do produto, industrialização e falta de sistemas de informação de mercados.
Essas características introduzem um elevado nível de risco para os produtores. A estes fatores acrescenta-se as políticas comerciais do país no âmbito da globalização e a abertura econômica tem grande influência sobre a competitividade da cadeia produtiva de batata.

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