Tive o privilégio de conhecer o egenheiro agrônomo, emérito pesquisador científi co, Dr. Ãlvaro Santos Costa (*1912 +1998) em 1976. Estava em férias da faculdade e ele me aceitou para ser seu estagiário, atendendo carta de indicação do Prof. Marco Pareja. Dr. Ãlvaro estava com 68 anos de idade; acumulava 46 de trabalho como cientista do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), dedicando-se exclusivamente às pesquisas com viroses de diferentes culturas.
Tinha ouvido falar muito dele durante um estágio anterior que havia feito com o grupo de virologistas do Instituto Biológico, entre os quais Dra. Vitória Rossetti, Dra. Marli Vicente e Dr. César M. Chagas. Naquela época, Dr. Ãlvaro já era dono de um currículo profi ssional dos mais respeitados no mundo da Fitopatologia, particularmente na Virologia Vegetal (Fitovirologia).
Como muitos que tiveram oportunidade de conhecer e trabalhar com ele, fi quei também rapidamente “contagiado” com a “virose” do desejo de imitálo; de procurar seguí-lo profi ssionalmente.
Seria quase impossível imitá-lo no estilo de vida, pois não tinha férias, não tinha feriado, nem fi nal de semana, nem fi lhos(as). Todos os dias eram para o trabalho. Seus fi lho(as) éramos nós, membros de seu equipe ou seus estudantes.
Divulgação
Durante entrega da Medalha da
ESALQ ao Dr. Alvaro com Sra. Jean
(Centro) Esquerda Dr. Gerd Muller e Direita JA Caram Souza Dias
A diversão para Dr. Ãlvaro era passar os dias de fi nais de semana e feriados na sua chácara ou na sua residência, estudando, analisando ou escrevendo trabalhos ou projetos de pesquisa do CNPq, FAPESP, FINEP, entre outras instituições de fomento nacionais e internacionais.
Ficava feliz quando, nesses dias ou nos momentos que os comuns chamam de lazer, recebia membros de sua equipe, colegas ou estudantes para escrever tese, artigo ou projeto. O colega Fernando Juliatti (Univ. Federal de Uberlândia), fi cou na história da vida do Dr. Ãlvaro, como um dos, senão o último, colega a discutir assuntos técnicos com ele, uma ou duas semanas antes do seu falecimento (18 de agosto, 1998). Tentar imitá-lo no estilo de trabalho, seria passar a ter como meta de realização profi ssional plena, a produção científi ca de qualidade, feita com precisão e focada na sua aplicação para solução de problemas do agricultor.
Isso sim poderia ser possível imitálo, desde que também amássemos a ciência da fi tovirologia acima de tudo e; assim amando, somássemos coefi cientes de inteligência acima do razoável (para começar) na matemática, na bio-fi sicoquímica, geral e especializada, além da economia (pois investimento para ele era bolsa de valores) e da área de conhecimentos das línguas, pois dominava nosso português, bem como o inglês e melhor ainda, orgulhosamente, o idioma alemão. Todas na fala, na escrita e na sua compreensão. Mantinha em dia a língua Inglesa fazendo todas anotações de pesquisa ou pessoais, além de arquivos, sempre nessa língua.
Ao voltar do trabalho para sua casa, procurava sempre dirigir num traçado em que as curvas eram mais para direita, praticava a língua inglesa falada, pois era casado com a dona Jean Really Costa (natural da Pensylvania, EUA), senhora muito religiosa e de fé fervorosa. Nesse aspecto espiritual, diferia totalmente de sua esposa. Comentou comigo certa vez que admirava quem tinha e, numa outra vez, que até sentia falta da fé. “Sua religião e sua fé era o trabalho”, conforme defi niu bem o Dr. Francisco Cupertino (ex membro da equipe do Dr. Ãlvaro, professor aposentado da Universidade de Brasília, que em 1970 deixou a vaga de virologista de batata no IAC para eu a ocupar em 1978).
Sua fi sionomia parecia “um pouco” fechada e até carrancuda. Seus olhos azuis fi xavam nos olhos dos interlocutores. Era uma pessoa séria demais. Por isso, encantava e até surpreendia quando, demonstrava seu bom humor, sua apreciação por piadas inteligentes e “limpas”. Era cativante seu modo de trabalho: seguia rotinas rígidas, disciplina nos atos, se auto-questionava, buscava a perfeição e a competitividade, mas sempre com o evidente respeito aos colegas e no rigor da ética profissional, não aceitava resultados negativos e acreditava mais na repetitividade dos resultados científi cos obtidos do que nos valores estatísticos encontrados. Alertava- nos para o “cuidado de não utilizarmos a estatística em nossas pesquisas como um bêbado usa um poste: mais como um ponto de apoio do que uma fonte de luz”.
Como um exímio investigador, não deixava escapar nenhum controle em seus desenhos experimentais. Fazia seu trabalho em busca de objetivo claros e os alcançava da forma mais simples possível. Entusiasmava e se empolgava com o entusiasmo e a empolgação dos que, mesmo não possuindo a inteligência e compreensão necessária, se esforçavam na condução dos experimentos, obtenção e interpretação dos resultados.
Por ele, com ele e através dele, os fenômenos aconteciam e eram decifrados, interpretados de forma lógica, compreensível, simplesmente simples. Os mais de mil trabalhos científicos publicados pelo Dr. Ãlvaro, incluindo estudos de caracterização, diagnose, epidemiologia e controle de viroses em praticamente todas as espécies de interesse na agricultura brasileira, permitiram não só desenvolver a própria ciência da fitovirologia mas, também, uma escola dessa arte no Brasil.
O legado do Dr. Ãlvaro na virologia vegetal não tem precedente. Seus trabalhos são referências quase obrigatória em manuais de Fitopatologia, livros ou artigos de revisão, quando escrito por autores com conhecimento profundo e isento sobre a matéria. Costa, A.S., como é citado na literatura, está presente na condição de autor principal ou como co-autor, em maior número de vezes se comparado a outros fitovirologistas e em praticamente todas as culturas. É autor em trabalhos clássicos e pioneiros sobre viroses dos citros, do feijão, da soja, do algodão, do fumo, do tomate, da batata e várias hortaliças, os quais são referências quase obrigatórias na literatura nacional e internacional.
Exemplo desses trabalhos são os da premunização (“vacinação”) no controle efetivo da tristeza dos citrus; da dinâmica das viroses transmitidas por mosca branca em feijão, tomate entre outras; das interações de viroses no algodão; da diagnose, epidemiologia e controle do vírus do enrolamento da folha e de outras viroses causadoras de degenerescência na batata-semente no Brasil; na caracterização e sistemas de produção/manutenção de mudas livres das principais viroses do morangueiro, videira, mandioca etc.
Por mais de 40 anos, Dr. Ãlvaro foi chefe da Seção de Virologia e liderou uma das mais diversifi cada, produtiva e mundialmente reconhecida equipe de fi tovirologista, nas principais culturas no Brasil (breve descrição dessa equipe em Cupertino, F.P, 1993,RAPP, v1; Yuki, V.A. 2000. Summa Phytop. v.1; Kitajima, E.W. Essa liderança não era exercida por ele apenas em função do cargo de chefe que ocupava, nem tão pouco por ter sido o fundador da Seção, mas liderou sim por ser um líder nato, tanto científi ca como administrativamente.
Dr. Ãlvaro atuou como pesquisador principal e colaborador em mais de 2 centenas de projetos de pesquisa e mais de 3 mil experimentos conduzidos e concluídos, sendo mais de 1.000 publicados.
Alcançou em 1977, pontuação por produção científi ca ainda não superada pela Comissão que valia anualmente os pesquisadores científi cos do Estado de São Paulo.
Tinha sede incessante de saber e se atualizar, cada vez mais. Lia toda e qualquer literatura especializada; participava de forma direta ou indireta em eventos científi cos e técnicos da Fitopatologia e das diferentes culturas. Correspondia e mantinha contato (era préinternet) com o mais humilde produtor até os mais renomados especialistas em questões relacionadas com virologia nos diferentes segmentos da agricultura, do Brasil e do exterior. Transbordava seu amplo e profundo conhecimento sobre o estado-de-arte da fi tovirologia, seja a nível de laboratório ou de campo. Transbordava sim, pois não retinha nada do que sabia. Seus conhecimentos científicos, resultados de pesquisa e suas observações feitas no dia-a-dia, nas estufas e nos campos, eram apresentados, discutidos e divulgados, nas mais diversas formas possíveis de transferência e multiplicação de conhecimentos científicos e tecnológicos.
Considerava a tarefa de professor como um exercício de atualização constante e uma oportunidade de discussão técnica-científi ca com mentes “novas”, “jovens”. Certamente, a carreira de mais de 30 estudantes de mestrado (entre os quais eu me incluo) e doutorado, os quais tiveram o Dr. Ãlvaro como orientador, foi e vem sendo marcada com destaque. Nesse mister, Dr. Ãlvaro orientava de perto o aluno, desde a elaboração do projeto de pesquisa, a condução experimental, análise de resultados, até a conclusão, redação e defesa da tese. Dr. Ãlvaro tinha a capacidade de atender e responder com precisão, de modo quase simultâneo, perguntas que funcionários, colegas, alunos ou produtores lhe apresentavam, mesmo sendo sobre questões ou problemas totalmente distintos. Não se embaralhava nem se confundia com os diferentes detalhes que cada assunto continha e exigia. Não viveu na era da informática. Na década de 90, quando faleceu, o Brasil ainda mantinha a “reserva de mercado” para computadores. Um dia perguntaram se ele, os seus mais de 80 anos, tomava alguma coisa para preservar aquela invejável memória. A resposta foi sim: “tomava nota”. Mostrou a cadernetinha que carregava no bolso esquerdo da camisa. Detalhe: a camisa era sempre de cor bege e com dois bolsos; o da direita era cheio de canetas.
Dr. Ãlvaro, enquanto chefe da Seção de Virologia do IAC, não endossava ou deferia propostas de membros de sua equipe para realização de cursos de pós-graduação no exterior. Defendia sim cursos de especialização no exterior e de pós graduação em universidades no Brasil, de preferência dentro ou nas proximidades de Campinas, para não haver interrupção prolongada dos trabalhos na Seção. Fui o primeiro membro da equipe do Dr. Ãlvaro, a se ausentar para curso de doutoramento no exterior (University of Wisconsin – Madison, EUA; 1984 a 1988). Logo em seguida, também foi o colega Dr. Jorge A. M. Rezende (atualmente prof. na ESALQ).
Essa conquista foi possível pelo fato de a chefi a da Seção ter sido transferida ao Dr. Gerd W. Muller, o que ocorreu em 1982, quando Dr. Ãlvaro completou 70 anos e atingiu a aposentadoria compulsória.
Dr. Gerd foi um dos poucos membros da equipe que manteve uma decisão administrativa contrária e na presença do Dr. Ãlvaro, podendo presenciar mais tarde sua concordância e aceitação.
Após aposentadoria compulsória, Dr. Ãlvaro continuou, até segunda metade da década de 90, sua rotina normal de trabalho na Seção como pesquisador emérito, título outorgado pelo Governador do Estado de SP. A partir de 1996, sua saúde e visão o impediam de continuar vindo à Seção o dia todo, permanecendo apenas na parte da manhã.
Tinha um motorista particular apesar de ter-lhe sido oferecido um oficial do IAC para lhe servir.
Dr. Ãlvaro recebeu as mais altas homenagens outorgadas por entidades de classe no Brasil e no Exterior. Uma lista dessas homenagens e outras informações sobre a vida e obra científica desse nosso orgulho nacional, poderão ser encontrados no portal: http://www.abc. org.br/SJBIC/CURRICULO.ASP?CONSULTA=ASCOSTA&ETAPA=7&LIN GUA= Esse portal é do Ministério da Ciência e Tecnologia/Ordem Nacional do Mérito Científi co, o qual lhe outorgou, poucos meses antes do seu falecimento, a mais alta medalha dessa entidade: Categoria Gran Cruz. Tive o privilégio de conseguir realizar o evento que, em homenagem póstuma, marcou a entrega das Insígnias da Ordem, trazidas de Brasília pelo Prof. Dr. Lindolfo de Carvalho Dias, Presidente do CNPq e Ministro Interino do Ministério da Ciência e Tecnologia. As condecorações foram entregues à dona Jean R. Costa, viúva do Dr. Ãlvaro, sob apoio da Bayer S.A.; Home & Hass e Rodhia. Esse ato da entrega está gravado em uma placa de bronze cimentada em uma enorme e linda pedra, posicionada na entrada do prédio principal da Virologia do IAC.
Se no Brasil, tivessem escolhido, ou se ainda vierem a escolher, o engenheiro agrônomo-cientista, que durante o Século XX conseguiu gerar e disseminar maior quantidade deß conhecimentos científi co e tecnológico, transferindoos com sucesso, de forma efetiva, para a solução de problemas em diferentes setores do agronegócio, acredito não haver outro nome senão o do Dr. Ãlvaro Santos Costa.
Perpetuando o nome do Dr. Ãlvaro
Ainda quando o Dr. Ãlvaro estava entre nós, pus em prática o desejo de homenageá-lo, como gesto de gratidão eterna que tenho por ele, de várias formas:
1. Dando seu nome aos ciclos de palestras que venho realizando desde 1992 em várias regiões do Brasil. Toda palestra minha inicia-se com 1 ou 2 slides de apresentação do Dr. Ãlvaro à audiência.
Assim, já estamos no 26º. Ciclo de Palestras “Ãlvaro Santos Costa” Sobre Viroses da Batata;
2. Realizando a cada 10 anos o Seminário “Ãlvaro Santos Costa” sobre viroses da batata. Realizamos em novembro de 2005, junto com o colega André N. Dussi (EMBRAPA) o 3º Seminário “Ãlvaro Santos Costa” sobre viroses da batata, batata-doce e mandioquinha salsa, em homenagem à ao Dr. Luiz Salazar (CIP-Peru). Vale ressaltar que esse Seminário está cumprindo a promessa que fi z ao Dr. Ãlvaro, de realizar esse evento a cada 10 anos, desde o sucesso obtido em 1984, no primeiro realizado em colaboração com Dr. Nozomu Makishima (EMBRAPA) e Sergio Regina (MAPA); e
3. Oficializando na Sociedade Brasileira de Fitopatologia o Troféu “Bota do Dr. Ãlvaro Santos Costa” (réplica em bronze, fi xada em plataforma de granito, no tamanho original da bota que ele usava, em suas constantes visitas a experimentos e produtores no campo). Esse troféu está na 7ª versão (sob Apoio da Bayer CropScience) e tornou-se o símbolo ofi cial do prêmio “Mérito da Fitopatologia”, homenagem máxima outorgada anualmente durante o Congresso dessa Sociedade.
Contribuição
José Alberto Caram de Souza-Dias
(Eng. Agr. PhD)
Pesquisador Científi co
Centro de P&D Fitossanidade
APTA-Instituto Agronômico de Campinas (IAC)
e-mail: jcaram@iac.sp.gov.br
Fone (19) 3241.5947 – Ramal 363
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Eng. Agr. José Alberto Caram de Souza-Dias (Ph.D) Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) – Centro de Fitossanidade / Virologia e-mail: jcaram@cec.iac.br Cx.P. 28; 13020-902; Campinas, SP (fone: 0xx19-32415188, ramal 360) Assim...
Paulo Popp, Engenheiro Agrônomo, Paulo Popp Consultoria Agrícola Ltda, pesquisador eassessor de desenvolvimento da Germicopa S/A, França. rppopp@netpar.com.br, telefones:(41) 253 7435 e (41) 9963 4092. Variedade é tecnologiaUma nova variedade de batata é sempre...