Variedades-Batatas selvagens brasileiras no melhoramento genético


Pedro Hayashi


jarril@uol.com.br


 


Mesmo para pessoas que se relacionam diretamente com as batatas ficam surpresas em saber da sua origem. Muitos pensam que a origem da batata é a Europa, talvez pelo nome de batata inglesa. Como todos sabem a origem da batata é sul americana, mais especifi amente do Peru. Não podemos deixar de mencionar a contribuição dos Europeus na domesticação e adaptação da planta de batata até chegar ao que conhecemos hoje. A partir da espécie Solanum andigena, uma planta de dia curto foi levada pelos espanhóis e plantada em condições de dia longo. Possivelmente este material teve grandes problemas por ser cultivada em um ambiente bem diferente do local de origem, mas com passar do tempo e com seleção, está planta deu origem a batata doméstica ou S. tuberosum. No trabalho de melhoramento genético, existe sempre a preocupação em obter novas características para serem introduzidas nos materiais existentes. Estas características podem ser as mais variadas, como resistência a doenças e pragas, resistência a calor, aumento de matéria seca, capacidade de extração de algum elemento químico e tantas outras. A grande diversidade de espécies selvagens de batata a torna uma planta com grande potencial para a introdução de novas características. A maioria das variedades que conhecemos certamente deve ter algum gene de espécie selvagem ou primitiva. Como exemplo a variedade Atlantic, muito conhecida como uma variedade de excelente qualidade industrial tem na sua constituição genética genes de Solanum chacoense. Um dos progenitores da Atlantic a Lenape, é neta desta espécie selvagem. Também outras espécies têm contribuído muito para que a batata tenha as adaptações e resistência. Seria cansativo mencionar nomes e locais de origem da grande quantidade que constitui as espécies selvagens de batata usadas no melhoramento genético, no entanto como informação interessante é a ocorrência de espécies selvagens de batata no Brasil. O primeiro contato que tive com este tipo de planta foi durante uma visita ao Dr. Hilário Miranda no Instituto Agronômico de Campinas, onde ele me apresentou a uma plantinha dizendo ser a espécie S. chacoense. Até então pensei ser uma espécie introduzida de algum país sul americano em trabalhos de melhoramento genético. Em uma viagem para o norte do Paraná em uma fazenda no município de Guapirama, encontrei uma planta que lembrava a que havia visto no IAC. Novamente entrei em contato com o Dr. Hilário, e ele me disse que algumas espécies selvagens de batata ocorrem no Brasil. Comecei a pesquisar e realmente encontrei relatos da ocorrência de quatro espécies no Brasil. As espécies são S. chacoense, S. calvescens, S. Muelleri, S. commersonii. Com grande surpresa descobri que estes materiais foram descobertos por estrangeiros, com expedições bem antigas, de 1873 (S. Calvescens). Estas expedições percorreram grande parte do nosso país buscando estes materiais certamente para serem usados como materiais para o melhoramento genético da batata, muito antes da biodiversidade ser valorizada. Não podemos esquecer que a mesma espécie pode ocorrer em mais de um país. Exemplo disto é a espécie S. chacoense que amplamente distribuída na América do Sul. Porém, com adaptações do local onde se desenvolveu. Depois de conhecer um pouco destas espécies comecei a questionar a razão de não serem usadas para o melhoramento genético, já que são materiais muito rústicos e adaptados às nossas condições. Seriam materiais para fornecer genes de resistência a calor, pois conseguem vegetar em pleno verão a 700 metros de altitude, diferente de materiais selvagens que vieram dos Andes ou outros locais, com altitude normalmente acima de 2.000 metros. Existem diferentes linhas no processo de melhoramento genético da batata. Há linhas que não incluem materiais selvagens ou primitivos pelo fato de que os materiais resultantes destes primeiros cruzamentos não ser nada parecido com batata, além disto, podem carregar grande quantidade de glicoalcalóides, deixando os tubérculos com gosto amargo e impróprio para consumo. Além destes problemas há também a dificuldade de cruzar espécies diplóides com as domésticas (S. tuberosum), onde vários recursos devem ser utilizados para que se obtenham estes híbridos, como cultivo de anteras, uso de produtos que podem duplicar o número de cromossomos, possibilitando um cruzamento entre as duas espécies. Apesar de todas estas dificuldades, existem países como exemplo a Rússia, que possuem em seus programas de melhoramento uma base genética com vários materiais selvagens incluindo S. chacoense. Alguns resultados foram apresentados no “The Potato Rússia International Conference” que aconteceu em agosto de 2007. O programa de melhoramento genético na Rússia inclui o desenvolvimento de clones originados de materiais selvagens para serem utilizados no cruzamento com materiais domésticos. Para que se obtenham resultados positivos no uso de espécies selvagens é preciso conhecer estes materiais e o potencial que possam oferecer em um programa de melhoramento genético. O trabalho com este tipo de material pode ser bastante demorado, pois após vencer todas as barreiras para efetuar os cruzamentos, é preciso “domesticar” os descendentes, como eliminar o excesso de glicoalcalóides, obter características desejáveis, como aptidão culinária ou industrial, formato e tantos outros pontos que tornam a batata aceitável para o mercado. Dentro do nosso trabalho de melhoramento genético, obtivemos alguns híbridos a partir de espécies selvagens Brasileiras. Os clones apesar de apresentarem claras características de plantas “selvagens”, mas mostram por outro lado um aspecto interessante dos tubérculos e suas aptidões. Vale mencionar que mesmo em primeira geração a partir de selvagens cruzadas com doméstica apresentam um bom aspecto na qualidade de fritura, onde podemos prever que estes clones possam dar origem a variedades de batata com qualidades industriais. Todos os clones se mostram bastante resistentes às doenças mais comuns como requeima e pinta preta. É evidente que com cruzamentos que deverão ser feitos para “domesticar” estes materiais, seus pontos fortes vão se diluindo dependendo dos genes envolvidos. Para concluir, é bastante atual a utilização da biodiversidade para obtenção de novos produtos. Não podemos esquecer que estes materiais fazem parte da nossa fl ora, e por outro lado muito poucos estudados por nós. Vendo o trabalho em outros países que sequer possuem materiais nativos, buscam intensamente por eles nas Américas, seja de maneira ofi cial ou através de contrabandos. Será que já não estamos atrasados?  


 


Referências: 


Sklyarov N.P.and Yashima,I.M.(1973)Inheritance of de resistence to virus Y in potato wild specie Solanum chacoense Bitt and Solanum commersonii Dun.In:Cytologia I Genetica (Cytology and Geneteic),Kiev,132-135. 

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