Antonia dos Reis Figueira Fitovirologista Universidade Federal de Lavras Depto de Fitopatologia CP 37 – Lavras/MG – 37200-000 fone: (35) 3829 1282 – antonia@ufla.b
Introdução
Apesar de as doenças causadas por vírus em batata serem bastante numerosas, a maioria delas não tem importância econômica no Brasil. Desde o início da produção de batata-semente no país o vírus do enrolamento da folha (Potato leafroll vírus – PLRV) era considerado o único causador de prejuízos significativos para os bataticultores, até que, em meados de 1994, houve a introdução de uma nova estirpe do vírus Y (Potato vírus Y- PVY), através de sementes de batata provenientes de paises europeus, com grande potencial de disseminação em campo, mudando completamente o quadro da epidemiologia dos vírus de batata no Brasil. Desde então, outros isolados de PVY têm sido introduzidos com as sementes de batata importadas, principalmente as provenientes do Canadá, de modo que o PVY tem tido uma importância igual ou maior que a do PLRV, em alguns campos de produção de batata-semente no Brasil.
O vírus S (Potato vírus S – PVS) e o vírus X (Potato vírus X – PVX ) são vírus latentes, ou seja, não induzem sintomas visíveis na maioria das cultivares de batata plantadas, e também não têm constituído problema para a bataticultura brasileira até o presente momento. Entretanto, com a recente abertura da importação de sementes de batata dos países integrantes do MERCOSUL, onde a incidência desses vírus têm sido historicamente alta, houve a necessidade de se fazer uma mobilização geral dos setores oficiais, técnicos e produtivos, ligados à bataticultura no país, para criar normas específicas visando impedir a entrada de sementes com altos níveis de PVX e PVS no país. O potencial que cada um desses vírus possui, para causar perdas de produção na batateira, e a justificativa para os índices, considerados restritivos, estabelecidos como limites para a produção e importação de batata-semente básica no país, são a seguir apresentados e discutidos.
Vírus S
O vírus S da batata não tem tido importância no Brasil, provavelmente porque as sementes utilizadas para plantio ou estão isentas ou contêm um teor muito baixo de vírus. Entretanto já foram feitas obsevações esporádicas, em que esse vírus alcançou altos níveis de disseminação, mostrando a sua importância potencial para o Brasil. Ele pertence ao gênero Carlavirus, espécie “Potato virus S”, possui uma partícula alongada, flexuosa, com 610 a 700 nm de comprimento, tem como ácido nucléico RNA de fita simples, positiva, com 7,4 a 7,7Kb. A doença causada pelo PVS é comumente conhecida por mosaico ou mosaico latente, devido à ausência de sintomas nas plantas infectadas. O PVS é capaz de infectar poucas espécies hospedeiras, principalmente das famílias Solanaceae e Chenopodiaceae.
Os sintomas provocados por esse vírus geralmente são latentes, de modo que é muito difícil, e às vezes impossível, fazer a sua diagnose visual em condições de campo. Algumas cultivares são mais suscetíveis e mostram um aprofundamento das nervuras na parte superior da folha, que pode se tornar rugosa. Outras reagem com um mosqueado leve, e às vezes a formação de uma banda quase imperceptível ao longo das nervuras. As folhas velhas geralmente não ficam uniformemente amarelas, podendo apresentar manchas acinzentadas, às vezes bronzeadas. Em raras ocasiões, dependendo da cultivar e da severidade da estirpe, as folhas podem apresentar bronzeamento, rugosidade severa e desenvolver manchas necróticas na sua superfície superior.
A maioria dos isolados de PVS conhecidos não possuem vetor na natureza, sendo que a sua transmissão se dá por enxertia, por inoculação mecânica e pelo contato entre a planta sadia e a planta infectada. Desse modo, o principal meio de introdução do PVS no campo é através de sementes contaminadas, após o que, a sua disseminação ocorre facilmente através do contato natural entre as plantas vizinhas, de implementos agrícolas, roupas, nas operações mecânicas durante o transporte, classificação, e também no armazenamento durante a fase de desenvolvimento dos brotos. Entretanto já foram detectadas algumas estirpes capazes de serem transmitidas pelo vetor.
Slack (Plant Dis. 67:786-789,1983) conseguiu a transmissão de alguns isolados de PVS, pertencentes ao grupo de estirpes Andinas, através do vetor Myzus persicae, e Wardrop et al. (Am. Pot. J. 66:449 – 459, 1989) obtiveram de 5 a 14,3% de transmissão do PVS para as plantas de batata inoculadas com Myzus persicae e Aphis masturtii, em condições de laboratorio. Singh et al. (Can. J. Pl. Sc. 69:1347-1352, 1989) detectaram infecção primária de PVS em plantas de batata de diversas cultivares, no Canadá, que foram multiplicadas a partir de tubérculos livres de vírus, sugerindo que vetores poderiam estar envolvidos na introdução desse vírus na cultura.
Mesmo na ausência de vetor, a disseminação desse vírus no campo, por meios mecânicos, parece ser bastante eficiente, e a sua velocidade de disseminação depende da estirpe do vírus e da cultivar, podendo a sua incidência chegar a 100% nos tubérculos colhidos. Wilson & Jones (Ann. Appl. Biol. 116: 103 – 109. 1990) examinaram tubérculos de duas cultivares de batata colhidos na Austrália, na safra de 1987/88, e encontraram incidência de 3 a 100% de PVS na cv. Delaware e de 7 a 20% de incidência na cv. Kennebec. Omer & El-Hassan (Trop. Agric. 71: 200 – 203. 1993) encontraram uma incidência de 0,6 a 1% na cv. Go Alpha, 1,7% na cv. Gl Alpha e 89,6% na cv. Zalinge, que foram plantadas na primeira estação do ano, em três regiões do Sudão.
De Bokx ( Potato Res. 15: 67 – 70. 1972) observou a disseminação do PVS, em condições de campo, em duas cultivares de batata: Eesterling e Alpha, ambas com sementes apresentando 10% de incidência inicial do vírus. Ele observou que, no final do ciclo, a cv. Eesterling apresentou entre 56 e 76% enquanto que a Alpha ficou entre 2 e 28% de incidência do PVS. O padrão de distribuição das plantas infectadas no campo foi bastante típico de disseminação mecânica pelo contacto entre plantas. Franc & Banttari (Am. Potato J. 73: 123 – 133. 1996) testaram a disseminação do PVS em campo, colocando plantas de batata infectadas com PVS nas proximidades das parcelas experimentais, para servir como fonte de inóculo.
No final de duas multiplicações em campo as cultivares Norland e Russet Burbank apresentaram 71,8 e 73% de incidência de PVS, respectivamente, enquanto que a cv. Kennebec apresentou apenas 29,5% de incidência. A translocação das partículas virais para os tubérculos ocorreu em 13 dias para as cultivares Russet Burbank e Norland e em 20 dias para a Kennebec.
No Brasil, o vírus S da batata já foi constatado em praticamente todos os estados produtores de batata do Brasil, porém a sua incidência em campos de produção de sementes tem sido praticamente nula, de modo que aqui não se tem muita experiência com a disseminação do PVS no campo. Entretanto algumas exceções, em casos isolados, têm sido relatadas. Daniels & Castro, (Fitop. Bras. 9: 398.1984) detectaram uma incidência do PVS em torno de 100% em cultivares nacionais, que haviam sido submetidas a várias multiplicações sucessivas em campo, e Marton et al. (Hort. Bras. 11: 82. 1993) mostraram que o PVS pode induzir perdas significativas, principalmente quando associado a outros vírus como o do enrolamento da folha (PLRV), alertando para o perigo potencial que esse vírus representa para a bataticultura brasileira
Segundo dados da literatura o efeito da infecção do PVS na produção depende da estirpe do vírus e da cultivar de batata, podendo variar entre 10 e 20%. Entretanto perdas maiores já foram observadas no Brasil. Marton et al. (Hort. Brás. 11: 82.1993) observaram, em pesquisas realizadas no CNPH em Brasília – DF, que plantas de batata cv. Achat, quando infectadas com o PVS, apresentaram 49,29% de redução na produção, e que quando infectadas com PVS + PLRV essa redução aumentou para 77,5%, mostrando que em infecções mistas o seu efeito é bem mais severo.
A redução causada pelo PVS na produção da cultivar Baronesa foi de 51,47%. Por outro lado Daniels (Fit. Bras. 10:302.1985), no Rio Grande do Sul, não registrou perdas significativas causadas por esse vírus na cv. Baronesa, provavelmente devido à diferenças nas estirpes utilizadas e/ou nas condições ambientais onde foram feitas as avaliações.
Como se pode observar tanto a velocidade de disseminação desse vírus no campo quanto o seu efeito na planta de batata depende das estirpes do vírus, das cultivares e também das condições climáticas, o que no Brasil tem um significado especial, pois além de aqui se cultivar batata em três estações do ano, o cultivo é feito em regiões com uma ampla variabilidade climática, empregando-se diversas cultivares com genótipos bastante variados. Isso aumenta significativamente a possibilidade de que esse vírus encontre condições ótimas para sua multiplicação e disseminação no campo. Por outro lado se a estirpe de PVS, transmissível por vetor, for introduzida no Brasil as consequências poderão ser desastrosas, pois existem afídeos vetores no campo durante todo o ano. Portanto é de fundamental importância que os tubérculos sementes utilizados para propagação estejam isentos de vírus, ou que a sua incidência seja a mínima possível, para proteger a bataticultura nacional. Além disso a ocorrência de outros vírus, como o PVY e o PLRV, que normalmente estão presentes nos campos de produção do Brasil, faz com que haja um risco extra, pois como já foi comentado anteriormente as perdas provocadas pelo PVS em infecções mistas tendem a ser mais severas.
Vírus X
A exemplo do que ocorre com o PVS, atualmente o PVX não é considerado importante no Brasil porque a semente plantada ou está isenta ou tem índices muito baixos desse vírus. Entretanto é um vírus que ocorre no mundo inteiro e não deve ser negligenciado nos sistemas de certificação de sementes, pois pode causar perdas bastante significativas se estiver associado a outros vírus como o PVY.
O PVX pertence ao gênero Potexvirus, espécie “Potato vírus X”, possui uma partícula alongada, flexuosa com 470 a 480nm de comprimento e seu ácido nucléico é um RNA de fita simples, positiva, com 6,435 Kb. A maioria das suas hospedeiras se encontram dentro da família Solanácea, porém existem também algumas hospedeiras em outras famílias como Amaranthaceae e Chenopodiaceae. Embora o PVX possa ficar latente e passar desapercebido em muitas cultivares de batata, ele pode também induzir sintomas de mosaico foliar padrão, na área internerval. Esses sintomas são mais visíveis em temperaturas mais baixas, em torno de 16 a 220 C, e dependem também da estirpe do vírus e da cultivar.
Poucas são as estirpes capazes de induzir necroses. Quando o PVS e o PVY infectam simultaneamente uma planta, ocorre uma reação sinérgica, resultando em uma rugosidade severa, que pode levar a uma diminuição significativa na sua produção.
O PVX, não é transmitido por inseto vetor, porém é facilmente transmitido por meios mecânicos e por enxertia. No campo pode ser transmitido por contato entre plantas sadias e infectadas, por operações mecânicas durante o transporte, plantio, colheita e classificação, por roupas, armazenamento durante a fase de desenvolvimento dos brotos, fungos de solos, contato com animais e também insetos raspadores e/ou mastigadores. Câmara et al. (Hort. Bras. 4: 8 – 10. 1986) observaram que tubérculos da cultivar Desirée, que apresentavam 10% de incidência de PVX na terceira geração, terminaram com 35% de incidência na nona geração. A cv. Marijke, que foi cultivada paralelamente no mesmo experimento, iniciou com zero e terminou com 6,5% de incidência de PVX. Talens (Phil. Agriculturist. 62: 144 – 148. 1979), examinando os estoques de batata-semente produzidos em 1977 nas Filipinas, encontrou uma incidência de 73% de PVX, que foi detectado tanto sozinho (14,8%), como associado ao PVS (44,6%), ao PVY(4,1%) e a ambos (9,5%), no mesmo tubérculo semente. Pode-se observar que a incidência tanto do PVX como do PVS, que são transmitidos mecanicamente, foram maiores.
Uma vez presentes em um determinado lote de sementes, é extremamente difícil evitar a disseminação desses vírus transmissíveis mecanicamente. Wilson & Jones (Ann. Appl. Bio. 116: 103 – 109. 1990) avaliaram a incidência de vírus na batata semente produzida na Austrália, em duas regiões, na safra 1987/88. Em Albany, dos 14 produtores avaliados, apenas um colheu tubérculos, da cv. Delaware, com 20% de incidência de PVX, sendo que os demais treze produtores colheram tubérculos, dessa mesma cultivar, com incidências de PVX que variaram de 92 a 100%. Os índices na cv. Kennbek foram bem menores, variando de 1 a 20%, mostrando que a disseminação de PVX no campo depende também da suscetibilidade da cultivar. Na outra avaliação feita na região metropolitana de Perk, a incidência de PVX variou também com a cultivar de batata, mas foi de 95 a 100% na maioria das cultivares mais suscetíveis, como Delaware e Pontiac F. Theodoluz et al. ( Am. Pot. J. 66: 449 – 459. 1992) observou que 99,2% dos tubérculos do banco de germopasma de batata da Universidade Austral do Chile estavam contaminadas com viroses, sendo que os que continham apenas um vírus apresentaram 10,6% de PVY, 8% de PVS e 2,6% de PVX. Os demais, com infecções mistas, apresentaram 12,3% de PVX e PVY, 4,0% de PVX e PVS, 27,2% de PVY e PVS e 34% de PVX, PVY e PVS. Observa-se, portanto, que a disseminação do PVX é bastante eficiente, de modo que, a utilização de sementes livres de PVX no Brasil, é muito importante, principalmente porque a incidência do PVY tem aumentado nesses últimos tempos, o que potencializa o risco de aumentar a severidade nas perdas de produção devido à infecções mistas.
Os poucos trabalhos que foram conduzidos para avaliar as perdas, provocadas pelo vírus X nas diversas cultivares de batata, têm demonstrado que o PVX, quando está presente na batateira em infecções simples, pode causar perdas na produção acima de 10%. Entretanto, perdas provocadas em plantas de batata com infecções mistas não têm sido determinadas. Sabe-se, porém, que plantas infectadas com PVX e PVY apresentam concentrações bem mais altas de vírus nos tecidos (Stouffer & Ross, Phytopathology, 51: 5 – 9. 1961; Ford & Ross, Phytopathology. 52: 226 – 233. 1962), e apresentam sintomas morfológicos bem mais severos, o que, por consequência, também induz perdas maiores na produção.
Conclusão
É importante considerar que o fato de o PVX e o PVS não estarem causando perdas na produção da batata no Brasil, não significa que eles são incapazes de afetar a produção, mas sim que normalmente eles se encontram ausentes na maioria dos campos produtores. Como o Brasil renova constantemente os seus estoques de batata-semente básica, com material importado livre desses vírus, isso tem se tornado possível.
Entretanto, esse quadro poderia ser facilmente revertido se as sementes importadas para o Brasil fossem portadoras de altos índices de PVS e PVX. É necessário que sejam aproveitadas as experiências adquiridas na bataticultura nacional, num passado recente, quando as sementes de batata importadas, infectadas com uma estirpe de PVY, com alto poder de disseminação em nossas condições edafoclimáticas, trouxeram grandes prejuízos para os agricultores de todos os estados produtores de batata no país e colocaram esse vírus na lista daqueles considerados limitantes para a bataticultura brasileira.
Os baixos índices de incidência do PVX e PVS que constam na instrução normativa no. 18, em vigor desde Novembro/ 2001, que estabelece as normas para importação de batata-semente no Brasil, parecem restritivos, mas na verdade refletem uma preocupação real, gerada por observações de estudiosos desse assunto no Brasil e no mundo. Se esses vírus fossem fáceis de serem controlados, após a sua introdução na lavoura, esses índices não deveriam ser considerados restritivos para os países exportadores de sementes para o Brasil, que têm achado difícil produzir sementes de batata com os índices discriminados
nessa instrução normativa.
Como a transmissão desses vírus é feita basicamente por métodos mecânicos, o seu controle preventivo é bastante efetivo, portanto basta que esses países multipliquem tubérculos livres de vírus, para a produção de sementes destinadas à exportação. Isso porque o Brasil não tem nenhuma dificuldade para produzir batata em seu território, mas sim, para fazer com que essas batatas tenham baixa incidência de vírus, o que o leva à necessidade de importação para a renovação de seus estoques de sementes básicas.
Não haveria nenhuma justificativa para se gastar divisas com importações de sementes de batata de baixa qualidade fitossanitária, uma vez que elas estariam disponíveis no mercado interno.
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