Alexandre Andreatta Diretor da Andreatata Sementes Ltda. tatasem@uol.com.br Representante exclusivo no Brasil de HZPC Holland B.V.
No mundo todo existem produtores que são pontos de referência, seja local ou internacionalmente, pela qualidade aplicada em seu processo de produção ao longo dos anos. Como são pontos de referência, tornamse também pontos de visita quase que obrigatórios. É como ir a Mafra e não visitar o Nagano Kinzi, ir a Guarapuava e não visitar o Moacir Ayouagui, ir a Itapetininga e não visitar os irmãos Furtado, ir a Cristalina sem passar pelo Igarashi ou pelo Hayashi e o Airton, ir à Bahia e não se impressionar com o Ivo Borré, passar por Poços de Caldas sem tirar o chapéu para o Sr. Ernesto Carvalho Dias. Tudo isto foi só para introduzir uns produtores holandeses de sementes de batata estabelecidos bem ao norte do país (talvez os maiores em área plantada de batata, hoje, na Holanda) e conhecidos simplesmente como “Os Três Irmãos”. São pontos de referência. Em todas as dez visitas que fiz à Holanda, sozinho ou acompanhando grupos de produtores, na ida ou na volta, no começo ou ao final da visita, sempre acabamos passando pela fazenda dos “Três Irmãos”.
Foi numa destas visitas, em 1997, quando estávamos começando a trazer ao Brasil as primeiras amostras para ensaios das variedades Caesar e Vivaldi, que chegamos aos “Três Irmãos”, exatamente no momento em que estavam classificando um lote de Vivaldi para um embarque precoce. Conversando com um deles, pedi-lhe que comparasse a Vivaldi com a Monalisa. Sua resposta foi diretíssima:”Não tem comparação. Vivaldi é muito melhor!”, e enfatizou bastante esse “muito”.
De fato, a Vivaldi tem características bastante favoráveis, quando comparada à variedade Monalisa. Mais bonita, muito mais uniforme, muito mais produtiva, mais precoce, mais vigorosa, mais resistente à sarna comum, à requeima e à rhizoctonia, mais resistente aos danos mecânicos.
Aconteceu, porém, com a variedade, por volta do início do ano 2001, com alguns produtores que a estavam adotando, quando da colheita de batata consumo, de dizerem que a Vivaldi “perdeu o brilho” ou “escureceu muito rápido” – e alguns comerciantes, muito rapidamente, espalharam pelo mercado que “toda a Vivaldi está escurecendo” e que “a variedade não presta para o comércio”. A maledicência correu tão rápido que outros produtores que estavam colhendo Vivaldi, sem problema algum, tiveram de vender suas produções como se fossem Monalisa ou Ãgata, pois diversos comerciantes não queriam nem ouvir falar da variedade.
Neste ponto, eu cheguei a pensar que a variedade estava morta no mercado brasileiro e de fato, houve uma queda acentuada na venda de sementes básicas de Vivaldi, em 2002, em ordem inversa ao que vem ocorrendo no mercado europeu, onde a variedade tem crescido continuamente. Consultando os técnicos da empresa proprietária da variedade na Holanda, sobre o problema, eles nos disseram que havia dois pontos básicos a considerar:
Vivaldi é uma variedade que prefere solos mais pesados, uma boa adubação e atenção à presença de micronutrientes, especialmente boro, zinco e magnésio;
Nas condições brasileiras, Vivaldi amadurece cerca de dez a quinze dias antes que Monalisa e como tal, deve ser colhida também antecipadamente. Fui então consultar alguns produtores que se mantiveram fiéis à variedade para tentar desvendar que tipo de manejo estavam adotando, de forma que não estivessem sendo afetados pelo problema da perda de brilho da pele. Todos plantam Vivaldi já há mais de quatro anos.
Experiência local:
O Sr. Fumiya Igarashi, da Lavoura e Pecuária Igarashi, com plantio de batata nos Estados de Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás e Bahia, disse que o problema do escurecimento deviase ao uso de solos cansados e preparados inadequadamente. Sentiu o problema em alguns plantios na área de Cristalina/GO, porém considera Vivaldi uma variedade excelente para a região da Chapada Diamantina, na Bahia.
Já para Jorge Massuda, do Grupo Massuda, de Ibiá/MG, além do bom preparo de solo (diferenciado de outras variedades) e da antecipação da colheita em cerca de uma semana a dez dias em relação à Monalisa, também é importante manter a umidade do solo aos 80/85 dias do ciclo, pré-colheita, assim como evitar colher quando os tubérculos ainda estiverem esfolando. Ele destaca ainda, além da boa produtividade, a boa resistência da Vivaldi, tanto à sarna comum, quanto à rhizoctonia, fatores importantes na sua região. Carlos Roberto Vieira Romano, o Bebeto, de Alfenas/MG, diz que Vivaldi é uma variedade que se adapta muito bem aos plantios de seca e inverno, em sua região, por seu ciclo mais precoce, com uma produtividade média comercial entre 1.800 a 2.000 sacos por alqueire (cerca de 40 ton./ha), destacando assim como o Jorge a maior resistência à sarna comum e à rhizoctonia, e acrescentando, ainda, que considera a Vivaldi uma variedade com plantas mais vigorosas, com talos mais fortes, que a Monalisa.
O Eng. Agrônomo Mário Imark, diretor da Tecplan Planejamento Agropecuário, empresa que presta assistência técnica a produtores da região de São Mateus do Sul/PR, realizou ali um ensaio com 14 variedades entre 2001 e 2002, incluindo as principais variedades presentes no mercado brasileiro. Neste ensaio, Vivaldi foi a terceira em produção total com 49,8 ton./ha (atrás de Caesar e Jaette Bintje), porém, devido à sua grande uniformidade, foi a primeira em produção comercial com 47,4 ton./ha. Assim como o Bebeto, o Mário diz que a variedade tem um ótimo aproveitamento nas safras de inverno, além das já faladas resistências à sarna comum e rhizoctonia, e lembrou também que a Vivaldi é bastante tolerante à requeima, um problema sério na região.
Principais características da variedade:
Vivaldi é uma variedade desenvolvida pela empresa holandesa HZPC Holland B.V., com sede na cidade de Joure. É fruto do cruzamento entre Monalisa e o clone TS 77-148. É uma variedade de tuberização e maturação precoce, de pele amarela clara e rendimento elevado, com tubérculos ovais bastante uniformes e de tamanho médio, olhos superficiais e polpa amarela. A produtividade é muito boa. O período de dormência é médio.
Vivaldi é razoavelmente resistente à requeima na folhagem e bastante resistente à requeima nos tubérculos. Apresenta resistência moderada à sarna comum. Como já dito anteriormente, é uma variedade que prefere solos argilosos, com uma boa estrutura e preparo. Em termos de adubação, recomenda-se uma quantidade média de Nitrogênio, um bom suprimento de Potássio e atenção à presença dos micronutrientes. A emergência das plantas e o desenvolvimento da folhagem, ao contrário da sua mãe, Monalisa, são bastante rápidas, cobrindo bem o terreno. A colheita, em geral, não apresenta problemas, pois Vivaldi tem muito boa resistência, tanto ao enegrecimento interno, quanto aos danos mecânicos. Devese evitar, apenas, como já disse o Jorge Massuda, colher antes que a pele esteja realmente firme. Além das resistências acima descritas, Vivaldi é bastante resistente também às viroses, notadamente aos vírus do Enrolamento e ao PVY. Suas principais suscetibilidades são em relação à Alternaria solani, principalmente, e um pouco à sarna prateada. Uma aplicação inicial e preventiva com fungicida é bastante recomendada.
Em termos de características culinárias, Vivaldi é uma variedade cujo teor de matéria seca é de médio a baixo, porém a qualidade de consumo e o sabor são muito bons (e aqui ela supera a Ãgata por larga margem) e não descolore após o cozimento. A condição para lavagem é muito boa e seu processo de esverdeamento é muito lento. Além disso, a beleza e a extrema regularidade (padrão) de seus tubérculos de forma oval dão à variedade um grande valor comercial.
Entre os produtores que já a conhecem bem é comum ouvir que Vivaldi se destaca bastante, comparando com Monalisa e Ãgata. Só que é preciso aprender a manejá-la corretamente. E, na minha opinião, os fatores que diferenciam um bom profissional, em qualquer ramo de atuação, são a disposição de querer aprender sempre e a atenção constante às boas oportunidades de mercado. Fica aí a dica.
Aviso importante:
Vivaldi é uma variedade protegida no Brasil (Certificado de Proteção número 00132 emitido pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 13/03/2000) e sua multiplicação depende de contrato de licenciamento com o proprietário e sua devida autorização. Os royalties incidem apenas na venda de sementes a terceiros, sendo isenta de pagamento a produção de sementes para uso próprio.
A produção de mini-tubérculos depende de autorização expressa e adicional ao contrato com o proprietário. Não há ainda nenhuma empresa brasileira autorizada a produzir mini-tubérculos da variedade Vivaldi. A legislação brasileira de proteção de cultivares prevê a apreensão de todo o material produzido sem autorização e processo criminal contra os fraudadores, aí entendidos tanto os vendedores de sementes ilegais quanto os seus compradores. E com a nova Lei de Sementes, aprovada pelo Congresso Nacional, a fiscalização do uso de sementes será muito facilitada. Então, não corra riscos desnecessários, não endosse a pirataria, não seja cúmplice desta praga que envergonha o Brasil.
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